quarta-feira, 28 de abril de 2010

Viva a Poesia ! As artes do vovô


Caros amigos,

A poesia de hoje, "As artes do vovô" faz parte do meu livro Rebenta Pipoca, editado pela Pioneira, cujos direitos voltaram para a autora. É uma homenagem a todos os vovôs e vovós. Ilustrações de Gilberto Marchi.
Beijos,
Regina


As artes do vovô


O vovô é bem velhinho,
Às vezes, fala sozinho.
Esse vovô é de morte,
Diz que pratica um esporte:
Ficar de papo pro ar
E dormir até roncar.
Tem hora que a coisa complica
Quando o vovozinho implica:
— Quem roubou minha dentadura?
— Quero comer rapadura!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Primeira reunião da AEILIJ SP em 28 /04/ 2010

Meus caros,
Convido a todos para a primeira reunião da AEILIJ SP (associação de escritores e ilustradores de literatura infantil e juvenil de São Paulo) da qual sou coordenadora regional. Será na Assembleia Legislativa de S. Paulo, sala Teotônio Vilela, dia 28 de abril, quarta, a partir das 19 hs. Abordaremos vários assuntos interessantes, tais como: sugestões para a indicação do autor ou ilustrador que será homenageado em 2010. A AEILIJ SP tem uma parceria com o deputado Giannazi e realiza, desde 2007 essas homenagens. Em 2007 foi a vez de Tatiana Belinky, em 2008, a crítica literária Nelly Novaes Coelho e em 2009, o dr. José Mindlin, conhecido bibliófilo. Outro assunto que deverá interessar aos ilustradores de Sampa é a possibilidade de expor seus trabalhos no parque da Água Branca, em maio, num espaço oferecido pela Praler. Os detalhes serão explicados durante a reunião. Haverá, também, um gostoso bate-papo com a Ceciliany da FTD e para encerrar, a AEILIJ SP vai oferecer um pequeno coquetel ao pessoal.
Apareçam por lá.
Abração,
Regina

sábado, 24 de abril de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 5




DOMINGO PEDE PALAVRA
                                 















Marciano Vasques
  

 A LÍNGUA NÃO TEM GOVERNO
 
  

 Pense em algo que não pode ser domesticado. Se na Língua pensou, acertou.

Quando o idioma, feito de palavras, sofre a sua primeira ameaça de controle, com certeza uma comunidade corre o risco de ser vítima de algum totalitarismo, por mais sutil que seja, por mais retórico.
Ao pensar em manipular um povo, comece por governar o “que não tem governo”, a sua oralidade, a sua Língua, a sua escrita.
A Língua não tem jeito: escoa nas feiras, nas oficinas, lambuza-se de graxa, suja-se de vida, de paixões, é livre, solta, vai pela poeira do tempo atravessando gerações.
Bacana era prostituta, hoje tem muita gente bacana (para alegria de Baco? Ou bacana, que já perdeu o fio da meada com a “orgia” faz tempo é o avesso do avesso do avesso?). Antes tinha algo a ver com o jurídico, todavia hoje quase tudo é legal, principalmente (que veio de príncipe) na fala televisiva da apresentadora de programa de televisão, (sem querer ofender a juventude, claro, que se apropriou do texto com propriedade dentro da restrição vocabular original de uma época globalizada). Caetano fundou a transa na capa de um tablóide, hoje tudo se transa.
Palavras ampliam o seu campo semântico, são filhas da época, expressões modificam-se. Quando digo “coitado” não penso mais em quem está em posição de coito, quando digo “Não vá judiar do animal!”, ao menino que atirou o pau no gato, não penso no judeu; é mesmo como o processo de catacrese, ou seja, a metáfora que se desvinculou do seu sentido original.
A palavra está presente no odor do tijolo molhado, no salto dos anterozóides após a chuva, no miosótis, nos amores profanos e nas paixões ocultas, está na queda prateada do peixe suspenso no arco da madrugada; na Praça do Pirulito em Maceió, e nas vilas que foram erguidas com luta, suor, sonhos e sangue das mulheres de cândida, de zinco, de papelão, na periferia ferida de São Paulo e está na visão deslumbrada dos artistas circenses e dos poetas notívagos.
Dos arlequins de Sampa e dos estudiosos de Hegel, dos demônios e os anjos urbanos, dos verdes dos canaviais e das mensagens cifradas dos muros pichados, ela vem clara ou pesarosa, lapidada ou brusca.
Está nas bocas e nos gritos das passeatas que rasgam as cidades, na pronúncia do ourives, na prosa dos bêbados e nos dizeres repletos de ressentimentos, quebrantos e sinas; está nos bares e na poesia, nos altares e na promessa dos amantes.
A independência metafórica é o seu estatuto, e por isso ela não pode ser, em hipótese alguma, assimilada ou constrangida por decretos, pois sua alma decreta-se na vida. A alma da palavra, o espírito dos livros, os ancestrais, os povos que não morrem, nas narrativas míticas; as histórias que as almas generosas contam para as crianças, as cantigas imutáveis. Lá está o idioma: transmitindo idéias, reflexões, ensinamentos, fugacidades e ilusões.
Nos cais, nas docas, nos tórax encharcados de boleros e nas letras das músicas dos morros, na alvorada de cartola e nas dores dos que perdem seus filhos nas manhãs do início do século XXI.
O seu significado só pode ser baixado pelo desejo de cada um. O entrelaçamento de vocabulários nasce nos guetos e nas universidades.

Não se educa por decreto, e a Língua não admite policiamento.

A coisa começa a ficar ameaçadora  quando um governo pensa que pode controlar a Língua do povo, e no horizonte as nuvens negras podem surgir.
Escritores, caleidoscópios da sociedade, são ao mesmo tempo os zeladores do tempo. Eles velam pela beleza das coisas que passam. Nada pode interferir na criação literária, pois a sua fonte e alimento, o seu nutriente e a sua eterna generosidade vêm da impossibilidade de um pássaro sem fronteiras se adequar ao conformismo das coisas que não se movem.
A Liberdade de um povo é seu tesouro primordial. Deixe que digam, que falem...




Não tem preço!

Estive hoje na Casa das Rosas que fica na Av. Paulista.
Fui assistir ao II Sarau das Poéticas indígenas. Lá, se apresentaram índios das três etnias que participaram do levante popular chamado de Cabanagem no séc.19. Assistir a tal evento, não tem preço, ou seja, conhecer pessoalmente o escritor indígena Daniel MunduruKu e ouvi-lo falar de seus antepassados, das tradições e ouvir o poeta Carlos Tiago, da tribo Sateré-Mawê declamar a poesia da floresta... Outra grata surpresa foi conhecer a educadora Juju, do povo Mura que trabalha com a rede municipal de Cotia, aqui pertinho de Sampa. Juju ensina danças do universo lúdico dos Mura aos alunos.
Pude conhecer um pouco mais do mundo indígena graças à iniciativa da curadora e antropóloga Déborah Goldenberg. Parabéns, Déborah pelo belíssimo trabalho.
Um abraço a todos,
Regina Sormani

domingo, 18 de abril de 2010

NOTICIAS DA TERRINHA

Finalmente nosso lindo cinema será reformado e restaurado!
O presidente da ADEPHA (Associação de Defesa do Patrimonio Histórico de Agudos), sr. Mauro Napoleone, divulgou o recebimento de R$500 mil, repasse feito pela Cervejaria AMBEV, através de incentivos estaduais à cultura através do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
O projeto de reforma do Cine Teatro São Paulo, também foi aprovado pelo Ministério da Educação, por meio da Lei Rouanet, que prevê destinação integral do imposto de renda devido por pessoas físicas e juridicas para projetos culturais.
"Queremos desafiar outras empresas para que invistam, já que a ADEPHA tem disponivel credito em renúncia fiscal da Lei Rouanet, que captado via imposto de renda, dá isenção total da doação, ou seja, 100% do que for doado é abatido no imposto de renda devido, até de pessoa física. É nisso que estamos nos apegando para tentar motivar outros financiadores da obra, assim como a AMBEV fez." - explicou sr. Mauro Napoleone.
O projeto de reforma, que tem um custo de R$ 2 milhões, prevê a recuperação estrutural do prédio e da fachada e construção de um palco com camarins, lan house, minibiblioteca, lanchonete e espaço para exposições.

sábado, 17 de abril de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 4

QUEM CONTA UM CONTO AUMENTA O ENCANTO
 



Levo para casa o pássaro da “menina do conto”.

No caminho ponho-me a pensar que quem conta um conto aumenta o encanto.

O conto é o encontro com o encanto.

Coisas que penso, na direção da estação do Metrô, enquanto subo a Cardeal.

Passei o dia no Instituto Tomie Ohtake.

Penso coisas diversas. Um rodamoinho em minha cabeça. Queria ser apenas poeta.

Penso no significado de elite. A palavra é muito mal usada, como uma boa parte do nosso vocabulário. Elite significa originalmente os melhores. Não é o caso quando se fala em elite brasileira. No caso trata-se, na maioria das vezes, de pessoas endinheiradas, gente que tem dinheiro. Isso não tem nada a ver com elite, que é um termo belo em sua importância. Quem menospreza a elite verdadeira é um tolo.

O que se diz que é elite trata-se de gente deslumbrada, gente com dinheiro etc, que convive numa tolice circular, de grupinhos, mantendo um padrão hipócrita que convencionou que tudo que está exposto é arte.

O pior é teimar em enfiar goela abaixo verdades confeccionadas para satisfação indefensável.

Como passei um dia inteiro vendo arte, pus-me a pensar essas coisas, e claro que tentei afastar o pensamento. Tudo que está exposto é arte. Muita coisa se diz arte e a elite empina os aplausos e os comentários. Padrão hipócrita.

Chico Buarque é elite da música popular brasileira. Está aí uma coisa certa. Ele é o melhor e está entre os melhores, faz parte da elite. Esse é apenas um exemplo. Elite no bom significado, elite querendo dizer o melhor, a nata, o que se distingue, o que destoa, não elite no sentido usual, não a desvalorização do termo, da palavra.

Quem conta um conto aumenta o encanto. Gosto das “meninas do conto”. Penso também que hoje estou muito lobatiano, penso também que é preciso ter cuidado (e nem sempre sou cuidadoso) pois afinal os impressionistas quando chegaram foram inadequadamente recebidos e penso que hoje todo mundo gosta de Renoir, penso também que não tenho estrutura suficiente para segurar um debate sobre arte contemporânea, e penso finalmente que expor o meu pensamento é uma coisa válida.


No fundo reconheço que ainda prefiro a arte acadêmica. Fico emocionado quando estou na Pinacoteca, fico emocionado diante de uma pintura a óleo, fico emocionado diante de Almeida Júnior e por aí vou...

Sei que cada um se manifesta como pode ou sabe, cada manifestação é diferente. Uns ficam calados, alguns argumentam filosoficamente e outros desenvolvem reações explosivas, e no fundo todos gostariam de se manifestar diante de uma obra de arte, mas há muito medo, muito receio de que nos chamem de ignorantes, brutos...

Talvez tenham razão: é preciso mesmo uma lapidação imensa para que todos possamos compreender e nos acostumar com a arte que às vezes não consegue nos sensibilizar, não passa pelo belo, não vive a estética do belo (há outra?), e sinto que primeiro vem o sentir, depois o racionalizar, e essa é a chave.

Só entendo por arte aquela produção que consegue me provocar, aquela que me instiga ou me toca, aquela que eu não consigo produzir, não consigo fazer, mas está lá a me provocar. Se não me provoca, se não entra pelos canais do sentir, fica difícil para mim, que afinal tenho uma educação tradicional. A educação que me faz um conservador (conservar), a educação do chamamento, aquela que atende ao chamamento, e se ele não há, o que se diz arte não tem força...

São apenas fragmentos do pensar que me invadiu na subida da Cardeal. Lembrei-me da amiga que permaneceu três anos na faculdade de artes até encontrar uma saída, uma solução, teve a sorte, o privilegio de estudar num atelier, com um solitário artista de 70 anos, talvez o último...

O pássaro da “menina do conto” é uma dobradura.


Estou feliz com uma nova descoberta: quem conta um conto aumenta o encanto!


MARCIANO VASQUES

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Técnicas de ilustração- ed-02


Olá, pessoal!
O trabalho que apresento, Monteiro Lobato, foi realizado para a revista do Círculo de Livro. Pintei com óleo sobre cartão preparado com gesso. Utilizei medium Wingel para ter maior fluidez e secagem rápida.

Um abraço,
Marchi

Viva a Poesia!

Amigos, a poesia de hoje faz parte do meu livro:BICHINHOS DO ZOOLÓGICO, editado pelas Paulinas.Esse livro tem áudio/vídeo, com composições minhas, letra e música.
Um beijo,
Regina Sormani




Inspiro respeito e medo,
Não cheguem perto demais.
Adivinharam o segredo?
Sou o rei dos animais!
De lá pra cá eu passeio,
Rugindo feito trovão.
Mas, nem por isso sou feio.
Sou o famoso leão!

sábado, 10 de abril de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 3




DOMINGO 
PEDE 
PALAVRA


 
 
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A EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS  


    

Penso que uma reforma educacional deva começar pela educação dos sentidos. É possível que os que lidam diretamente com a educação: ministros, secretários, pedagogos e educadores, não tenham ainda se dado conta da urgente reforma dos sentidos num projeto pedagógico. Nenhum projeto de grande envergadura dará plenamente certo e obterá profundo êxito se não se investir com seriedade nos sentidos.
         O que significa dizer reforma ou educação dos sentidos? Reforma, palavra extraída e retirada do acervo filosófico, semanticamente quer dizer aperfeiçoamento, reconstrução. Educação, e não reeducação, significa investimento, modelação, lapidação. São sinônimos.
         Não reeducação pelo fato de que nunca houve um projeto nesse sentido. Apenas isoladas iniciativas. Entre as quais a implantação de alguma disciplina sem conexão com uma idéia central.
         Mais do que nunca, em nossos dias é necessário se pensar essa questão, porque estão os sentidos prejudicados, afetados, mutilados.
         Examinaremos rapidamente cada um dos cinco. Não que sejam os únicos, mas são os que aqui nos interessa.
         Começaremos pela audição. É sabido que a música está muito alta. Ela não precisa estar tão alta, basta ser boa, penetrar na alma, voltar à sua essência, viver de acordo com a sua natureza, cumprir o seu propósito, ou, se quiserem, o seu destino.
Uma das reclamações mais ouvidas dos professores é a questão da disciplina. As crianças estão terríveis, agitadas. Não há disciplina e justamente não há porque não há disciplina nos sentidos, não há rigor, não há preparação para a chegada do belo, não há um curso de  recepcionista da beleza. É preciso disciplinar os sentidos!

"Rosa e Azul" - Auguste Renoir


As crianças são as mais atingidas pela guerra do barulho em nosso tempo.
 Barulho excessivo. Máquinas, trânsito, ferramentas, gritos, portas batendo, e a música. Sim, a música nas rádios, na televisão. É preciso investir na música suave. Criança deveria ouvir música clássica nas escolas. Junto com a cantiga. A cantiga, pela sua resistência e adoração das crianças. Um dos aspectos da semelhança entre a cantiga e a música clássica é a permanência de ambas. Elas transitam livremente no tempo, atravessando momentos, ou seja, modismos. Uma cantiga é para sempre, assim como uma música clássica. Ambas são teimosas. Teimosia cujo caráter é universal.
A educação auditiva da criança deveria começar com a música. Depois a voz. É necessário aprender a falar baixo. Depois aprender a ouvir. Esquecer do mundo televisivo, do barulho musical, das vozes altas, dos gritos caseiros, e aprender a ouvir. Sentir a delícia do ouvir. Sentir o prazer inigualável da audição. A criança devia fazer um curso de audição da natureza. Aprender a ouvir as águas no rio, o vôo dos insetos, os pássaros, as delicadezas dos gatos.Talvez voltar a ouvir uterinamente!
Os adultos deveriam reconhecer os benefícios do silêncio, como ponto de partida para ouvir a voz dos ventos, a música do bailado dos eucaliptos. E então, com a alma eucalipitada, ouvir a apaixonante voz humana. Percebê-la como instrumento oferecido pela natureza para embelezar a audição. Voz nascida para o diálogo, para depositar nos ouvidos a paz.
         A música está perdendo o seu sentido original de elevação do espírito. Ouve-se música em todos os lugares e a qualquer momento. No elevador, no trânsito, no escritório, no banheiro, no supermercado, no dominó, na conversa. Virou mercadoria desprovida de sentido. Se tivesse se transformado numa com sentido! Como, por exemplo, um alimento. Mas porque foi transformada em música pela música, modelada para ser descartável, ser da moda, perdeu o sentido.
Talvez tenha sido a moda, a parada musical, a pior invenção para ela, que pouco a pouco foi perdendo o seu caráter de eternidade. As pessoas estão saturadas de música, porque a indústria não pode parar de produzir e hoje se produz música como se produz qualquer outra coisa. Não há necessidade de tanta produção. É necessário que as pessoas voltem a prestar atenção na música, voltem a senti-la. Ela  solicita atenção! Não pode continuar sendo este fast food espiritual! É necessária a educação do ouvir, o aprimoramento da audição. O som precisa ser aprimorado. A música ganhou em tecnologia, em técnica, mas está perdendo em sentido. E o seu sentido precisa ser reencontrado na educação dos sentidos.
A visão acompanha a audição em perdas e danos. O olhar precisa ser educado para a libélula, para as inflorescências, para o rio, para asas e verdes. Precisa ser enluarado, ensolarado, ser educado para a o chamamento da poesia. Estar pleno de chuvas, impregnado do sorriso das manhãs.

Atualmente o olhar nos causa a triste impressão de ausência. Quantas vezes ele, por puro desconhecimento do essencialmente belo, se desvia. Perdeu a sua pedagogia, que é a de captar o belo, a visão esplendorosa da natureza e fixá-la no viver cotidiano. Um mestre da pintura, a elegância de um sorriso, as formas graciosas dos pássaros. Já não é mais o olhar do espanto, do pasmo diante da descoberta do mundo. A velocidade da comunicação e o excesso de imagens são prejudiciais a ele.
Precisa de uma pausa, de repouso, de serenidade. O lago necessita da uma morada, o barco também.O olhar precisa do barco, do lago. Ele é a morada. Tem que recapturar o seu próprio dom de conectar a poesia diária, atender ao chamamento, estar encharcado das cores da vida. A criança, as pequenas formas que rastejam e voam, o azul, o ar. Tudo é sua  propriedade amorosa.

É perceptível a degradação do olhar. As pessoas estão aparentemente olhando. Um rosto humano quase nem é mais visível. Cosmo significa organização. Cosmético, organização do rosto. A antiga tentativa de organizar o rosto, deixá-lo mais bonito do que já é naturalmente, sempre teve como motivo principal oferendas ao olhar.
Olfato. Como isso já está se distanciando! Como diminui o prazer dessa convivência! Odores da vida sempre foram um grande auxiliar no desenvolvimento e aperfeiçoamento do olfato. Mas, quase nem há jardins!
O olfato precisa reencontrar os minutos fundamentais para o seu exercício saudável. O retorno do perfume das flores, as fragrâncias da vida. O olfato é como a memória, quanto mais se exercita, quanto mais se usa, mais se aprimora.
A convivência com o inodoro, com os cheiros industriais e os cheiros da poluição das grandes metrópoles, são fatores que perturbam o olfato. A degradação da alimentação, a idéia de globalização, que não privilegia os odores regionais da alimentação,- os odores culturais, são elementos que pouco a pouco vão reduzindo a capacidade desse sentido. Tudo, desde o azeite até as flores, parece cada vez mais inodoro.Os insetos, pássaros e mariposas parecem não afetados. Um consolo para as flores.
O paladar, a gustação. Eis um sentido severamente afetado. O grande culpado é a chamada vida moderna, a linha de produção, a pressa. Não há mais tempo para nada. Parece uma insensatez alguém exigir tempo para se alimentar.
É necessário que adultos reaprendam a mastigar. O almoço, o jantar, a confraternização, o encontro, - pois é assim que deveria ser o momento da alimentação -, precisa ser urgentemente retomado. Quem sabe um decreto mundial determinando que todos façam do momento de refeição um momento prazeroso, alegre, feliz, no qual pessoas possam se encontrar em sorrisos, gargalhadas, palavras e conversas.

De certa forma uma boa parte da população está engolindo em vez de mastigar, saborear. Comer um simples pedaço de pão é uma arte. É evidente que a educação desse sentido só  é possível entre os que têm o que comer. Pois seria hipocrisia, insensatez mental se falar em educação alimentar, em refinamento do paladar, para a multidão de famintos que vivem no mundo. É, pois, o sentido mais prejudicado no mundo contemporâneo. De um lado, seres humanos vivendo a absurda fome, de outro, pessoas comendo apressadamente, sem motivação, apenas saciando os instintos naturais. A qualidade desabando, o fast food monopolizando, o sabor se evaporando, o prazer indo embora. O que deveria exigir um ritual de alegria, de encontros, parece se dissolver numa obrigatoriedade, numa execução típica de animal irracional. Comer, comer, comer, esquecer que se alimentar é oportunidade de elevação do prazer humano, de encontro com a amizade, com a conversa, com a harmonia, o gosto.
Costumo afirmar que a educação deveria ser doce porque é o sabor preferido das crianças, porém é visível a falta de preocupação caseira com a alimentação saudável, com a educação do sentido paladar: muitos doces e salgadinhos, balas e chicletes, poucas frutas e verdes.
Finalmente o sentido fortemente atingido pelo modo de vida atual: o tato.
É o sentido do toque, do aconchego, das impressões. Cada vez mais prejudicado. É o sentido da delicadeza, da suavidade. Mas o que ocorre é o contrário. Cada vez mais o tato vai caindo em desuso, o que significa, vai tendo sua função culturalmente alterada.Vejamos:
Indelicadezas reinam no dia a dia. As pessoas estão batendo a porta do carro, a porta da geladeira, as janelas e as portas. Não precisaria isso. Mas está virando um gesto cultural! Bater. A imprecisão do bater é cúmplice da pressa, que é a alma da época. O curioso é que a avanço da ciência, da tecnologia, cada vez mais solicita a delicadeza, o veludo, a suavidade. As teclas de um computador, qualquer eletrodoméstico, tudo pede um gesto suave, tudo caminha para o toque. A ciência evolui, mas o homem parece que não. Continua a usar a força onde não é necessária.
Ao mesmo tempo, contraditoriamente o ser humano que bate as portas, vai tendo dificuldade cada vez mais sentida, de demonstrar o seu afeto. Já não se abraça como antigamente! Aliás, quase não se abraça. Apenas finge-se. É o abraço da velocidade, é o abraço superficial. Raramente se abraça o amigo, a esposa, com força. A força foi canalizada para os objetos. Até um aperto de mão cada vez é mais rasteiro, as mãos se desconhecem, parece que o toque se afugenta do corpo humano. O corpo humano não é mais uma preciosidade. Está cada vez mais distante do afeto, do toque, do tato, do abraço. O abraço é um patrimônio humano que está sendo abandonado. E assim vai o tato, cada vez mais deturpado, cada vez mais deformado.
Encerro afirmando que a escola, a educação, os que se ocupam dos afazeres pedagógicos, devem prestar atenção no fato de que um projeto pedagógico que viabilize os sentidos, que privilegie a educação dos sentidos, é o primeiro passo para uma nova maneira de olhar a vida.


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MARCIANO VASQUES 



Marciano Vasques é escritor
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Biblioteca Sormani e Cidade de Sormano

Meus queridos,

A pedidos, estou postando aqui no blog, fotos da cidade e arredores de Sormano que tem hoje 633 habitantes e fica próxima de Milão, Itália. A primeira foto é do brasão da familia Sormani, que saiu de Sormano e foi se estabelecer em Milão. O prédio é hoje, a famosa Biblioteca Sormani, em Milão, antigo Palácio Sormani, onde moraram o Conde e a Condessa Sormani.
Um abraço,
Regina

















sábado, 3 de abril de 2010

NOTICIAS DA TERRINHA

Estou aproveitando a oportunidade para enviar as novidades que acontecem aqui na terrinha de Agudos.

Vem aí a 2ª FESTA ITALIANA - de 7 a 14 de abril - na Avenida Carvalho Pinto - Jardim Canaã - a partir das 19 horas.
Com parque de diversões, praça de alimentação, cantina italiana, shows todas as noites e danças típicas.
Programação dos Shows:
Dia 07 - Ivano Italianissimo e Banda Santa Fé
Dia 08 - Banda Canto D'Italia
Dia 09 - Banda D3
Dia 10 - Amigos S/A
Dia 11 - Quinteto Brasileiro de Cordas; Academia de Danças Priscilla  Teixeira; Desfile de Modas Bambinos e Banda Simetria.
A entrada é apenas 1 kg de alimento.
Vale a pena comparecer e curtir um pouco da nossa distante Italia.

Beijos
Espero voltar em breve com mais noticias.
Thelma

Técnicas de ilustração - ed. 01- Ariano Suassuna


Olá, pessoal!

Estou inaugurando minha página de ilustração, onde comentarei várias técnicas aplicadas em artes editadas.
Nesta arte que hoje apresento, trabalhei com dois programas: Painter e Photoshop. A proposta era fazer um paralelo entre Shakespeare e o escritor Ariano Suassuna. Pensei em fazer um trabalho próximo à técnica de Velásquez e Franz Halls. Foi encomendada e publicada pela Editora Duetto como capa da revista Entre Livros.




Espero que tenham gostado.
Um abraço,
Gilberto Marchi

DOMINGO PEDE PALAVRA - 2


DOMINGO
PEDE 
PALAVRA
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A ESCADARIA E O ESCRITOR

 

O escritor não é um filósofo e nem deve se preocupar em sê-lo. Há filósofos que são escritores. Na escadaria dos espíritos necessários, ele está um degrau apenas de distância do filósofo. No mesmo degrau do poeta, um acordo firmado entre os dois, um sinal de cortesia, com certeza do poeta, um gesto solidário para com ele. Há poetas também escritores. Talvez por isso o poeta compreenda-lhe a alma, embora haja distância entre os dois, insignificante diante da distância dos que nada fizeram para estar num degrau da escadaria. Em linguagem leiga, popular, com esforço de semântica, escritor e poeta seriam uma coisa só.
O poeta, ser sedento por natureza. Sobre um retrato fiel do poeta, procurar por Eugênio de Andrade, ou então Henri Miller. Ser sedento, prioritário numa sociedade. Que seria da alma sem ele?

Poeta português Eugênio de Andrade
Reprodução


Escritor Henri Miller
Reprodução
Afirmar isso da prioridade do poeta pode ser motivo de chacota, por causa da forma como a sociedade humana se enredou. Mas quem se despi do uniforme contemporâneo e aceita a entrada dos raios no pensar, compreende perfeitamente a idéia da necessidade urgente do poeta, tal como pode ver despertada a curiosidade para com a escadaria e reparar que nela não há lugar para imobilidade e que cada um pode mudar de degraus, indo do degrau do santo para o do filósofo e assim por diante e que tudo se refere à natureza e ao esforço interior de cada um, pois ninguém é transformado num escritor, por exemplo, por ter um diploma de letras, por ser aceito numa academia ou por vender milhares de exemplares.

Santo
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Filósofo
Reprodução

O escritor precisa do contentamento para seguir em frente, contentamento que significa a descoberta da alegria, causada pela compreensão de si como alguém com inimitável responsabilidade para com a sociedade humana. Alguém que torna o seu degrau resplandecente, lugar de paz, com paisagem e atmosfera belas e atraentes.
Não pode vacilar, pois é o que mais se aproxima do filósofo - ser em extinção, diria quem já teria dito que a filosofia não é necessária, ou substituiu faz tempo o médico de almas por curandeirismo barato.
         Não apenas pela aproximação com o filósofo, mas pela sua própria natureza, muitas vezes por ele mesmo desconhecida: natureza de fazedor de homens, de arquiteto do tempo, de ensaiador de mudanças, de farol, de amigo do homem. Essencialmente do homem, e por extensão, do mundo.
Não é um pensador no sentido filosófico do termo, mas garimpeiro das necessidades do pensamento e observador desconcertante da imobilidade. Grande testemunha do tempo. Não se trata de endeusamento do escritor, mas tentativa de retratá-lo, de compreender a sua permanência tão próxima do filósofo, na escadaria que pode ser chamada de escadaria do pensamento, caso contrário poderia nela estar o médico, o juiz, que pertencem a uma outra categoria.
Ele arranha, perfura, invade, penetra nos espaços deixados pela insensatez e oferece revestimento de inegável força para o espírito humano.
Fato que o diferencia do filósofo é que ele pode escapar do círculo acadêmico, transitar no círculo, sair fora dele, chegar ao homem simples - leigo, que simplesmente gosta de ler - e apontar os girassóis do caminho
 Não é, no sentido concreto da palavra, um revolucionário, mas o é da palavra em si, do sentido transcendente inerente a ela; idéia de revolução que está ligada à idéia de existir, apropriação da idéia chamada revolução. Idéia de embelezamento, de oficinas, cuja ferramenta é a palavra: signo da gestação.
Quando o escritor ignora sua condição natural e ocupa o tempo apenas com academias, disputas grupais, luta obsessiva pela fama e coisas do gênero, ele perde a sua essência e se torna desprovido da sua responsabilidade. Esse desprovimento é a sua maior perda.
Comete enganos, e ao enganar-se engana a sociedade humana. Pode trafegar do campo ético para o moral, do filósofo para o religioso, da literatura para a auto-ajuda, um paradoxo no sentido de que é o ajudante universal da construção da alma da sociedade e as suas catedrais brilhantes são edificadas com a matéria prima chamada vida.
É irmão do poeta no sentido de que é ser voltado para a vida, nunca para a morte, tal como o verdadeiro filósofo, que quando, equivocadamente, ignora o poeta se põe incompleto e precisa reorganizar o seu sistema de pensamento.
Aqui reside a revolução do escritor: um ser voltado para a vida, abrindo caminhos, acentuando a luz, construindo mundos, mas sua revolução será sempre a mesma, a que repousa nas bibliotecas, estantes, sebos e memória.
Ele, assim com o poeta, corre o risco de se tornar conservador e até reacionário - estados e modos do ser que nada têm a ver com a literatura, a poesia. Ou então, como muitos poetas equivocados, apenas um arranjador, um manipulador da palavra, um ocupado com a rima, com a sonoridade do verbo, sem preocupação com a essência da poesia, da literatura, transformadoras do ser – humano.
É difícil ser escritor, mais ainda poeta, pois isso sempre significará renúncia ao modo de vida de rebanho (usando expressão filosófica), desprendimento, fuga para outra espécie de vida, e também desprezo pelo saber consentido, imobilizador, além de um profundo respeito pelas intrínsecas necessidades humanas. Se compreender isso, viverá em paz e compreenderá que a sua palavra é indelével. É isso o que importa. No mais, fazer de cada degrau da escadaria, um lugar adequado para se viver, ao lado de professores, jornalistas, e outros.

Biblioteca Mario de Andrade.
Reprodução

MARCIANO VASQUES

DOMINGO PEDE PALAVRA - 2

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sobre Páscoa, ovos de chocolate e coelhos.




Anos atrás, quando meus filhos Daniel e Raquel eram pequenos,costumávamos passar o feriado da Páscoa na nossa chácara.
Nós, os pais, pela manhã, bem cedo, escondíamos os ovos de chocolate no jardim e quando as crianças acordavam, corriam, de planta em planta a procurá-los. E quando achavam, era aquela festa!
— E o coelho, cadê o coelho? - perguntavam meus filhos.
A resposta era sempre a mesma:
— O coelho precisou ir embora depressa....ainda tem muitas entregas a fazer!
Acredito que já naquela época, as crianças sabiam que éramos nós, os pais, os "verdadeiros" coelhos, porém, gostavam da brincadeira e procuravam conservar a fantasia.
Nesta Páscoa, desejo a todos que as esperanças se multipliquem,a exemplo dos queridos coelhinhos, que as metas sejam atingidas e os sonhos, realizados.

Muitos beijos,
Regina Sormani