sábado, 29 de maio de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA

DOMINGO PEDE PALAVRA


Marciano Vasques
  

O ESCRITOR É
 
 


Sou um escritor porque escrevo, um poeta porque poetizo, isso pode ficar absolutamente claro. Há uma mentalidade declinante que considera escritor o sujeito que tem uma quantidade de livros publicados e vendidos. Tolice. Escritor é uma profissão diferente, poeta também. Um escritor pode não ter nenhum livro publicado, mas é. Sou porque me sinto, porque fui poeta. Ter ou não livros publicados é apenas uma circunstância, entre outras. O escritor é.
Quem é tratado como celebridade no Brasil corre o risco de falar o que quiser, e não encontra contestação. È difícil para qualquer um contestar uma celebridade, seja um artista da música popular brasileira ou um autor de literatura infantil.

Quando tive publicado em jornal o artigo O Pirata e as Estrelas, no qual me confessava envergonhado com a nossa elite musical, os tais medalhões, alguns, que colocavam seus nomes e imagens na defesa das grandes gravadoras – embora não explicitamente, considerando a capacidade de discernimento -, participando de campanha contra o CD pirata, quando assim foi, tornei-me um perplexo e na leitura tentei esquecer. Na leitura porque afinal ler um livro é a melhor forma de se escapar disso que está aí.
Melhor seria escrever contos ou no máximo, crônicas. Mas como sou alguém que vive intensamente o meu tempo e viver é participar, então, não há outra saída: é necessário escrever dessa forma, tentar estabelecer um diálogo, contribuir de algum jeito, mínimo que seja. É preciso prestar atenção no discurso de gente famosa. Astros às vezes peregrinam fora de órbita. Alguma coisa deve estar mesmo fora de ordem, alguma na vida real.
No passado não conseguia separar a obra do criador, por isso qualquer coisa que um “ídolo” pronunciasse, seria um grande acontecimento, com certeza um que beirasse o filosófico, pois afinal ainda se acreditava em mim que uma figura pública, da importância que tem um artista no Brasil (comparável a um esportista) só poderia abrir a boca para nos transmitir ensinamentos. O artista seria então um vale ético. A ética por excelência.  Moral, pelo menos.
Artista devia ser como professor, nem de esquerda, nem de direita. Seu lugar é na frente, devia. Nunca jamais inconfessáveis interesses deveriam ser publicamente expostos em entrevista ou em qualquer aparição do ídolo.
O lugar do poeta e do escritor certamente é o mesmo do professor e do artista. Sempre na frente. É uma deformação se atribuir ao escritor e ao poeta um lugar que não seja na frente, na frente do tempo, na frente da possibilidade de compreensão do que se apresenta na sociedade. Colocá-lo do lado esquerdo ou do lado direito, emparelhado, puxando a diligencia, num galope sem reflexão, é diminuir o seu estatuto, reduzir-lhe a missão.
Gente é pra brilhar, concordo plenamente com o artista. Gente também é para ter coerência, em todos os ângulos. Coerência às vezes é difícil, se você tem habilidade política dificilmente conseguirá ter coerência sempre.
Confesso que tenho consciência de que é difícil. Talvez a melhor solução seja o silêncio. Se o artista é obrigado a se manifestar corre o risco de antecipar vitórias.
Alô, alô, verde e amarelo: vamos prestar atenção em Michael Jackson!
Minha amiga Cátia Zela diz que nos suplementos preparados pelas editoras as sugestões didáticas para o professor são bem mastigadinhas, isso porque foi feita uma pesquisa que comprovou que a maioria dos professores não tem preparo profissional e intelectual, nunca sabendo o que fazer com os livros adotados pela escola. Já os bons professores nem chegam a abrir os suplementos, jogam direto no lixo, reforça. Não deixa de ser interessante o comentário da Cátia Zela. Mas isso é um outro assunto.
De qualquer forma, não se há de ter um sentimento ou um pensamento de arrogância para com o professor ou as suas coisas. Ele já é massacrado por todos os lados. Triste figura do magistério, outrora fora o mestre, a alma embevecida de giz e o coração enfileirado em livros. Mas tudo passa. O tempo veio e hoje a escola pública, cada vez mais parecida com o Brasil, grita por urgência. Urgência para com o professor. Há heróicos e valentes, há teimosos e sonhadores. E assim vamos...
E assim é. Escritor porque escrevo, professor porque ensino, poeta porque poetizo.

Quem compreendeu o essencial não desperdiçou o tempo.

 

sexta-feira, 28 de maio de 2010

11ª Edição do livro Bichinhos do Zoológico


Meus amigos queridos,
Hoje, recebi a notícia de uma nova edição do meu livro Bichinhos do Zoológico, um dos favoritos dos pequenos leitores. Publicado pelas Paulinas, ilustrado pelo Marchi. Tenho trabalhado muito esse livro nas escolas, utilizando um maravilhoso recurso que é o teatro de bonecos com contadores de história. Conto também com um audiovisual. As músicas e letras são de minha autoria. E o resultado aí está. Estou comemorando pra valer!!
Grande abraço a todos,
Regina Sormani

Viva a Poesia! - Ding, a Grande Aventura -


Olá, pessoal!

No Viva a Poesia de hoje, coloquei um trecho do meu livro" Ding, a Grande Aventura."
Editado pelas Paulinas, esse livro é uma continuação de "Ding, a Gotinha."
Ilustrado por Marchi.

Boa leitura e um grande abraço,
Regina Sormani.

Ding, a Grande Aventura

Caramel, doce abelhinha, voava daqui pra lá,
Colhendo o néctar das flores do pé de maracujá.
De repente, as anteninhas levantou num sobressalto!
Mestre trovão, rabugento, manda um aviso do alto:

— Corre, abelha, corre. Já despenca aguaceiro.
— Olhando daqui debaixo, o céu parece um chuveiro.
Preciso de um abrigo. Se chover o dia inteiro,
Pra mim será um perigo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Técnicas de Ilustração 4- O Médico e o monstro.


Olá,
Desta vez apresento uma arte de 1977, que foi realizada para a Editora Edibolso. Essa ilustração foi trabalhada com guache sobre papel Shoeller 4Gmontado. Esse papel é grosso com espessura de 3mm e bem liso. Somente usei pincel. A idéia foi mostrar a dualidade de personaliade numa só pessoa, diferenciando com sutileza essa passagem. Essa obra foi exposta no Masp numa das exposições do antigo Clube de Ilustradores do Brasil e ganhou medalha de ouro como melhor capa de livro.

Em defesa das árvores.

Hoje despertamos com o som insuportável das motosserras, misturando-se aos gritos dos funcionários de uma firma terceirizada pela prefeitura. Missão: derrubar uma bela árvore, que lá estava desde que nos mudamos para cá, há mais de vinte anos. Sabe-se que algumas tribos indígenas, antes de sacrificar uma árvore, fazem um ritual, desculpando-se, para que os espíritos que nela habitam, tenham tempo de procurar outra moradia. Depois, dizem que eles é que são os selvagens! E aqui estou eu,inconformada, ouvindo os gritos dessas pessoas ao cortar a árvore, o barulho do trânsito que ficou caótico, pois os galhos da árvores se espalharam pela rua. Todos querem passar, ir para algum lugar, não importa como...
O pior agora, é olhar para o vazio que ficou no lugar da árvore. Muitos justificam as podas drásticas das árvores como necessárias, visando a segurança dos carros que ficam estacionados embaixo delas. Eu digo que árvores são seres vivos e que durante toda sua vida necessitam de cuidados e manutenção. Se estão doentes, o único remédio é cortá-las cruelmente? Não posso e não quero concordar com isso.

Um abraço a todos,
Regina Sormani

domingo, 23 de maio de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 9

DOMINGO PEDE PALAVRA



Marciano Vasques

  

A RUA LONGA E O CRONISTA
 




No dia 12 de dezembro de 2003, em que me enviou os votos de um Feliz Natal num bilhete escrito no canto superior esquerdo de uma página do “Correio do Sul”, popular periódico de Varginha, Sul de Minas, o cronista Zanoto, o mais querido correspondente do Brasil, - como eu disse certa vez para Ilma Fontes, ao enviar uma formiguinha-, revelou-me que estava se recuperando de uma cirurgia no coração. Dizia que breve estaria em forma.

No mesmo dia, em sua coluna “Diversos Caminhos” no tópico primeiro falava de uma rua longa, “que é a rua do mundo/passa em torno do mundo/cheia de todas as pessoas do mundo...” como havia dito Laurence Ferlinghetti.

Até as vozes das pessoas que já existiram estão na rua longa. Nós, você, eu, P.H.Xavier, artistas plásticos, vendedores de amendoim, de sanduíches, de bilhetes de loteria, estamos passando na rua longa do mundo”, completava o Zanoto.
Eis uma entre tantas mensagens que não esqueço do amigo dos poetas que mora nas páginas do jornal mineiro.

Ontem enquanto ouvia Ramblin’Rose lembrei do Zanoto, lembrei da fuga da chuva, quando um homem e um menino corriam para a rodoviária na noite de um dia 25 de janeiro após terem estado com o cronista em seu apartamento.

Lembro-me da nossa conversa e jamais esqueci do “passeio maluco”, como bem definiu o poeta de Varginha. Afinal ter saído de São Paulo e ido à cidade do Correio do Sul apenas para ver o ilustre senhor que abriga no peito um coração acostumado com diversos caminhos e voltar no mesmo dia pode mesmo ser considerado uma maluquice. Qualquer outro ficaria alguns dias na cidade, mas parece-me que as visitas rápidas, as viagens curtas são as essenciais.

Eu, que vivo em “estado de partida”, penso que a vida vale por essas maluquices, esses encontros curtos, e sinto uma vontade de dançar ao teclado como gostaria que acontecesse a alma de Nat King Cole, com sua voz aveludada, com seu Ramblin’Rose. Cantos ameigados sempre me conduzem para manhãs distantes.

Mas nunca é demais lembrar que toda luta é grandiosa e o prazer da minha alma, ou seja, o aquecimento que o meu coração recebe com a voz fonográfica está gravado numa luta medonha, é assim com todos, com cada um de nós, com aqueles que decidiram por natureza a embelezar o mundo, cada qual com sua contribuição, toda ela sempre gigantesca, mesmo que pareça apenas uma simples semente, um fiapo de alpiste, uma gotinha de luz, um orvalho lavando verdes distraídos.

Zanoto não brotou espontaneamente, nada brota espontaneamente neste universo de lutas medonhas que se entrelaçam com seus chicotes de luzes e travam batalhas inacreditáveis apenas para conseguir um espaço para jorrar as belezas que querem ser expandidas.
Nat King Cole sofria ao ver que seus músicos eram proibidos de comer nos restaurantes dos hotéis onde ele se hospedava com seus colaboradores. Sofreu também quando comprou uma casa nas proximidades de Los Angeles. Os moradores promoveram uma campanha para evitar que ele se instalasse com sua família no bairro. Choravam todas as noites sem compreender porque os negros não podiam morar num bairro de elite. Ele, um cantor cuja voz já ecoava nos corações dos marujos, dos moradores e de todos os que ouviam rádio, vivia o drama de não poder morar onde quisesse. Quando finalmente conseguiu se mudar para a casa que adquirira com o seu próprio suor teve que enfrentar a intolerância racial e jamais se esqueceu das lágrimas banhando o rosto da filhinha adotiva Carol ao ler as coisas horríveis que os vizinhos escreviam com fogo na grama.

Porém isso não iria atrapalhá-lo, pois o seu destino era afinal se tornar um dos grandes cantores românticos do mundo.

Zanoto do coração lindo, a vida é curiosa. E cá estou a escrever essas “mal traçadas linhas” a lembrar de você e da sua trincheira, da sua batalha em favor do poeta desconhecido desse Brasil belo e maltratado pelos seus governantes nos séculos e séculos, e também a velar pela poesia universal.
A rua longa do mundo, bem disse você naquele dezembro em sua página, tem prolongamento por todas as cidades. Ela cruza avenidas, ruelas, ladeiras, boulevards...E assim vai marcando o espaço nosso neste dolorido e doloroso mundo.

Bem queria, bem-te-li, bem queria vagar na felicidade de Lupiscínio Rodrigues, quem sabe ouvindo ainda o Xote da Felicidade, tal como ouvi certa manhã no Parque da Água Branca, interpretada pela “Orquestra Sanfônica de São Paulo”, ou então na gravação de Paulo Diniz que não me esqueço.
“Nada será como antes”. Mas há coisas que não se vão, pois certamente ficaram à beira do caminho na rua longa. 

 
 

segunda-feira, 17 de maio de 2010

NOTICIAS DA TERRINHA




Este ano o Seminário Santo Antonio estará comemorando 60 anos.
Com uma arquitetura maravilhosa, conhecer o Seminário é uma excelente viagem de descanso.
A apenas 1 km da cidade Agudos, os candidatos a Freis Franciscanos, fazem o Ensino Médio e depois seguem para outras cidades para completar a educação teologica.
O Seminario possui: Igreja, Teatro, Marcenaria, Museu, Fazenda, Area de Lazer, Escola e Loja.
É o maior Seminario da America Latina.
Durante as férias dos seminaristas, o Seminario é alugado  para turistas. O museu pode ser visitado no 2º e 4º domingos do mês. A Lojinha está aberta de 2ª feira a sábado e domingos após a missa das 10 horas e durante à tarde.
A seguir algumas fotos do seminario.
Vista aerea do Seminário Seráfico Santo Antonio


alas internas



areas externas


biblioteca


museu

marcenaria







vista externa da igreja

vista geral da igreja

                                                      imagem de madeira de São Francisco

           orgão de tubos na igreja


               mel produzido na fazenda








sábado, 15 de maio de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 8

DOMINGO PEDE PALAVRA




  


A INFINITA CHAVE DO TESOURO INSONDÁVEL

 
 
Somos o encontro e o resultado de três realidades da vida a nos compor. A física, a química e a biológica. O encontro das três “ciências” forma a vida. E a partir dela ergueu-se um império. O império de vários nomes. Pode ser chamado de cultural ou de espiritual, por exemplo. Espírito é uma palavra de amplo espectro semântico. E pode significar coisas diferentes de acordo com o universo no qual se movimenta. E é uma palavra linda do acervo humano.

A física a nos movimentar. Somos seres físicos. Nadamos, caminhamos, corremos, pulamos, dançamos. Movimentamos nossos braços ao imperceptível sinal emitido pela central física de nosso cérebro.

A química porque somos uma usina de transformação ambulante. O pastel que comemos, o alimento, o açúcar que ingerimos, o caldo verde da cana, a frutinha roxa, a carne rósea do peixe, a energia que se transforma em nós, as transformações ocorridas em nosso organismo com os alimentos e a vida que se processa em nosso interior. Somos mais do que uma máquina: somos uma fábrica onde só entram os produtos permitidos para a produção da coisa. Se comermos sabão ou ingerirmos detergente, poderemos morrer. Participamos como seres químicos da combustão universal.

Somos biológicos porque não nos diferenciamos de qualquer ser do planeta. A flor que se reproduz pela polinização, a semente que renasce distante, a corça que corre na floresta, o pássaro que sobrevoa acima do lago, onde abaixo da superfície formas de vida se reproduzem. Participamos do complexo e maravilhoso mundo da vida biológica.Somos parte do espetáculo.

Mas há algo que nos diferencia dos outros seres. Algo que através dos tempos evolui, algo que na profusão delicadamente harmoniosa dos nossos neurônios brota. No reino absoluto dos feixes elétricos da nervura dos entrelaçamentos de milhões e milhões de feixes de luz e sensitivos surgem as emoções, os sentimentos, as vontades, os sonhos, os ideais...

E é ali, no gigantesco e medonho centro de neurônios formados pela junção das três “almas” do ser (a biológica, a química e a física) a reproduzir a sincronia e a harmonia do percurso universal que a maravilha de ser humano se manifesta.

Há, em nós, todos os elementos do universo. Todos os metais, todos os minerais, por isso, inclusive, é sábio acreditar que na própria natureza estão as soluções, as curas e as respostas para todos os males.

Entretanto, o que nos diferencia é o infinito edifício da cultura (o império) que em nossa mente foi erguido e que é transmitido de geração para geração. O choro, o medo, a consciência da morte, a alegria, as sensações diante de uma pintura, o gosto por determinado alimento, as repressões (invenções humanas), enfim, a cultura que foi erguida dentro do ser único.

As religiões que foram criadas, as tentativas místicas e esotéricas de se explicar o inexplicável, ou seja, aquilo que ainda não é compreendido em determinada época. Os tesouros da mente, acumulado e lapidado nas camadas do tempo da evolução das coisas que passam. Tudo a compor e a resumir o que os antigos primordiais do pensamento denominaram alma.

E assim o legado da antiguidade preservado através dos séculos, desde Hesíodo, os pré-socráticos, os orientais, o platonismo, a patrística, os povos do continente que os novos habitantes chamaram de América, tudo e todos. Eis é infinita chave da sobrevivência.

É ela que abre as portas do futuro, e o futuro é uma quimera que vai sendo devastada, o futuro transforma-se em presente pela vontade da vida que pulsa. Mas é fortalecido pelo passado, o seu nutriente, o eterno alicerce. Somente pisando no que era medo o homem abre o futuro, somente pisoteando as incertezas rasga a cortina do futuro. Somente aceitando o chamado e deixando-se seduzir pela grande mãe curiosidade, ele torna-se o grande construtor, e em cada época, o épico de si mesmo.

Por isso a criança é preparada em sua própria constituição, em sua própria “natureza mental”, e assim é a “alma infantil”, excessivamente curiosa. A criança naturalmente curiosa ao extremo desvenda a sobrevivência da humanidade. Essa é a grande generosidade infantil: e extrema curiosidade por tudo. A criança tem todo o tempo do mundo, mas tem pressa em desvendar os segredos da vida. A sua infância reproduz a infância da humanidade, por isso o homem tornou-se educador de si mesmo.

Ao transmitir para a criança o patrimônio mítico, as cantigas, as histórias criadas pelo espírito humano, ele participa da eterna reconstrução da preservação humana.

A infinita chave é a transmissão do legado, é a vontade de romper com todas as cortinas, todos os véus, é a preservação dos saberes acumulados, é a transmissão do que há de mais generoso na “alma” mental, o que foi construído sobre camadas palimpsestas – pois que é o homem senão palimpsesto de si mesmo?-, sobre atritos, conflitos, guerras, incompreensões seculares, medos memoriais, temores ancestrais; o que se diz agora é que a generosidade que há na “alma humana” foi lapidada através dos tempos numa construção que necessita do exercício do pensar para ser compreendida.

O homem, construtor de si mesmo, é também o construtor do afeto. A expansão da sua “alma” edificou cidades porque compreendeu num dia distante que precisava morar, construiu foguetes porque um dia olhou para as estrelas com um novo olhar, e construiu poesia porque um dia construiu idiomas, e porque um dia compreendeu que pode conquistar o universo, mas o tesouro insondável está em seu íntimo, em seu interior, dentro dele mesmo.

É dentro dele que a chave infinita abre as portas do tesouro insondável.

É por isso que um poema sobrevive através dos séculos, é por isso que a palavra do filósofo jamais será totalmente desprezada, é por isso que o mítico e o místico jamais devem ser esquecidos, pois ambos se referem às fases da alma.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Viva a Poesia! - Tartaruga e Jacaré

Olá, pessoal!

Os versos que estou postando hoje são do meu livro: BICHINHOS DO ZOOLÓGICO, editado pelas Paulinas. Apesar da "cara feia", o jacaré é um dos animais mais visitados pelas crianças no zoológico de São Paulo. Ilustrações de Marchi.
Um abraço e um beijo,
Regina Sormani




Tartaruga é companheira
Desta vida preguiçosa...
Ela nunca sente medo
Desta boca perigosa.
Nós,jacarés,
Queremos descansar,
O sol, pra dormir.
A água pra boiar.

domingo, 9 de maio de 2010

Técnicas de Ilustração- 3- Monanelore


Caros,

Esta arte foi para mim uma experiência interessante. Nunca havia tentado trabalhar com lápis carvão e posteriormente, sem fixar, aplicar as cores com Supracolor. Para quem não conhece, Supracolor é uma marca de lápis aquarelável, mas, não usei água. Somente usei como lápis tradicional. Quanto ao carvão, utilizei esfuminho para fazer as passagens suaves e fusões. O suporte foi papel Fabriano Cotton. Fiz o trabalho para a Agência Z+ e o cliente foi a Associação do Gado Nelore.
Também pode ser vista na Revista Abigraf nº 246, na página da SIB, dedicada à ilustração.

Abraço,

Gilberto Marchi

sexta-feira, 7 de maio de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 7 - MÃE DE TODOS OS LUGARES

MÃE DE TODOS OS LUGARES
 
 

Os shoppings e a propaganda se irmanaram na apresentação das mães em anúncios. Jovens, atraentes e modernas, muitas querendo ganhar de presente um celular ou algum aparelho eletrônico ou tecnológico.

Claro que há mães jovens e modernas. Aliás, hoje o modelo tradicional de mãe distante dos filhos tende a desaparecer. Ela vai com a filha ao Shopping usando a mesma roupa e falando praticamente a mesma linguagem.
E claro também que qualquer mãe fica feliz ao ganhar um presente. Qualquer pessoa fica.

Mas preciso falar de uma outra mãe, a que está em todos os lugares, a mãe dos filhos deste solo, a construir a sua história com sangue, suor, luta e garra.

A mãe que está nas ocupações de terra, nas vilas que são erguidas, no enfrentamento, na audácia, na coragem e na força. Mãe equilibrando-se nos supermercados para conseguir garantir a sobrevivência, também sentindo orgulho de ser brasileira, sem arredar pé da bravura e da ética.

Mulheres que estão ao redor de cada um de nós, nas periferias feridas, engolindo fumaça, na beira dos barrancos, buscando papelão, juntando latinhas, juntando moedas para comprar o pão de cada dia.

Mulheres que desaprenderam de sonhar com um sapatinho novo para o pequeno, que não estarão jamais no grande outdoor dos templos de consumo.

Mães nas fazendas e nos campos, às vezes perdendo a filha, às vezes perdendo seus homens. Com seus gritos silenciosos e abandonados.

Onde estão os responsáveis pelas mães que não ganharão presentes materiais? O que seria um problema menor, se nem um abraço poderão ganhar, às vezes porque o filho se foi, se perdeu no labirinto medonho das ruas.

A horrível aparência da indiferença costuma se fazer de invisível, e muitos, quando entram numa grande loja de departamento com o seu cartão de crédito – a grande ilusão-, para presentear (sempre merecidamente) a sua mãe, certamente esquecem das mulheres que vagam em tanques e na poeira das ruas pobres do país.

O ideal parece às vezes uma quimera. Ninguém ousa sair por aí abraçando mães desconhecidas, como se existisse isso. A mãe é universal, esteja ela com o rosto traçado por fibras e linhas de uma jornada heróica de lutas e sofrimentos, seja ela elegante e luxuosa.

A mãe favelada que oferecia o seu seio quase sem leite para a criança faminta e olhava através das frestas do zinco para a vastidão das estrelas e ocultava em soluços o pranto amargo das saídas aparentemente cerradas, talvez caminhe por uma rua qualquer da zona leste com saudades do filho que a vida embruteceu.


Todas as mães, em todos os lugares, inclusive no centro de guerras idiotas que levam vidas promissoras. E choram o pranto mais comovente do planeta, o da mulher que perde o fruto do seu ventre.

Todas as mães, em todos os lugares: um feliz dia das mães, da forma como tal coisa pode ser para cada um. E seja quem for o filho, lembre-se, beijo sincero e abraço profundo não precisa de fila de crediário nem de saldo no cartão.




MARCIANO VASQUES
DOMINGO PEDE PALAVRA

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Um livro belo e interessante.






Meus queridos,
Estive ontem à noite, 05 de maio, no lançamento do livro: CONTOS FOLCLÓRICOS BRASILEIROS de autoria do meu amigo Marco Haurélio, ilustrado pelo Maurício Negro, Paulus editora. O lançamento aconteceu no espaço da Livraria Cortez, em Perdizes.
No livro do Marco, vamos lendo e nos envolvendo com: Contos de animais, Contos de encantamento, Contos religiosos, Contos novelescos, Contos jocosos, Contos acumulativos e Contos de exemplo. Li, gostei e recomendo a todos.
Parabéns, caro amigo! Muito sucesso!
Um beijo carinhoso,
Regina Sormani

Nomes indicados para a homenagem 2010

Alò, pessoal!

Durante a primeira reunião da AEI-LIJ regional São Paulo, do dia 28 de abril, na Assembleia Legislativa, surgiram alguns nomes, dentre os quais vai ser escolhido, no decorrer do ano, aquele que será homenageado em 2010.
Foram indicados: Pedro Bandeira, Ruth Rocha, Eva Furnari, Maurício de Souza, Ísis Valéria, Edmir Perrotti, Francisco Marins, entre outros.
Para definir o escolhido, ou escolhida, ainda faremos mais alguns encontros e postaremos o resultado aqui no blog.
A Ceciliany, da editora FTD, compareceu e conversou um bom tempo com nossos associados, falando a respeito do panorama da poesia nfantil no mercado editorial e da importância de produzir e oferecer livros interessantes ao público juvenil.

Forte abraço,
Regina Sormani

sábado, 1 de maio de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 6 - O CIRCO



DOMINGO PEDE PALAVRA





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O CIRCO

“Vejam só que história boba eu tenho pra contar/ quem é que vai querer
me acreditar/ eu sou palhaço sem querer”
SONHOS DE UM PALHAÇO
Antonio Marcos /Sérgio Sá




Nas noites em que eu colhia vaga-lumes para fazer os lampiões, também durante o dia no quintal brincava de armar circos. Eu e minha irmã costumávamos correr logo cedo com os lençóis para que o circo já estivesse erguido na manhã. Tudo era aproveitado. O caule descascado de um eucalipto pequeno que nosso pai guardava para algum cercado ou um galinheiro que planejava, e que era por nós colocado num buraco que fazíamos bem ao centro do quintal, o próprio varal, a cerca, as madeiras espalhadas e as cadeiras. O picadeiro corria por conta da nossa imaginação. A mãe no tanque ou na varanda fingia que não estava vendo e só dava a bronca bem mais tarde quando o espetáculo já havia terminado e então nos obrigava a desmontar tudo e a recolher os lençóis. Assim eram erguidas as nossas manhãs.
Um dia quando ia para a escola reparei que havia um circo triste no meio do caminho. No meio do caminho havia um circo entristecido mais ainda pelo meu olhar campeão de perplexidades e descobertas.
Minha mãe esbravejando contra o comerciante que havia vendido para ela o meu presente de aniversário com defeito, pois não se conformava com o fato do estojo com vinte e cinco soldadinhos de chumbo ter vindo com um defeituoso. Sim, um deles veio sem uma perna e minha mãe ficou muito brava. Eu nem me importava com nada do que ela ralhava naquela tarde friorenta, pois não tirava os olhos do circo triste que ficava para trás.
Um circo triste era algo impensável para o meu coraçãozinho. Era a mesma coisa que um palhaço chorando de verdade. Uma coisa que não podia existir.

Como menino faz a infância com perguntas eu me perguntava o porquê da tristeza daquela lona. Nunca compreendi aquela melancolia chuvosa. Nada tinha a ver com a chuva fina que afinal lavava o circo.
Enquanto tremia de frio no banco da escola comparava o circo triste com os livros fechados de uma biblioteca que eu tinha visitado. Se eu pudesse, teria aberto todos, pois gostava mesmo era de alegria!

Gizes e lápis e meu pensamento voando para o circo. Era época de balões no céu e era tão bom viver uma meninice assim de papel de seda no céu e circos pobres nas várzeas arenosas e nos terrenos alagados. Um dos que não esqueci ficava num terreno da rua da pequena fábrica de sabão. Lembro-me de tê-lo visto certa vez quando corria atrás de um balão.
Mas o tempo passou e embora o “era uma vez” nunca se vá de verdade, as coisas essenciais vão se dissipando e nossa alma ensaia ficar virtual, tecnológica e de concreto.
E Arrelia morreu.

Num outono frio de maio Arrelia partiu. As cortinas desceram e as luzes do picadeiro se apagaram.
Nunca vi a cena comovente de um palhaço se pintando, mas fiquei em filas inesquecíveis e entrei com o coração saltitando mais que gafanhoto a deslizar em verdes, num circo de chão de barro, e jamais sairá de mim aquele universo de pipoca, pirulitos em forma de guarda-chuvas e algodão doce, e o nariz vermelho de um palhaço que estava ali para alegrar o meu coração.
E hoje no alto do tempo e no arco da minha vida é que compreendo que eu sempre quis que a vida fosse uma eterna “arrelia”.






MARCIANO VASQUES


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