MÃE DE TODOS OS LUGARES |
Os shoppings e a propaganda se irmanaram na apresentação das mães em anúncios. Jovens, atraentes e modernas, muitas querendo ganhar de presente um celular ou algum aparelho eletrônico ou tecnológico.
Claro que há mães jovens e modernas. Aliás, hoje o modelo tradicional de mãe distante dos filhos tende a desaparecer. Ela vai com a filha ao Shopping usando a mesma roupa e falando praticamente a mesma linguagem.
E claro também que qualquer mãe fica feliz ao ganhar um presente. Qualquer pessoa fica.
Mas preciso falar de uma outra mãe, a que está em todos os lugares, a mãe dos filhos deste solo, a construir a sua história com sangue, suor, luta e garra.
A mãe que está nas ocupações de terra, nas vilas que são erguidas, no enfrentamento, na audácia, na coragem e na força. Mãe equilibrando-se nos supermercados para conseguir garantir a sobrevivência, também sentindo orgulho de ser brasileira, sem arredar pé da bravura e da ética.
Mulheres que estão ao redor de cada um de nós, nas periferias feridas, engolindo fumaça, na beira dos barrancos, buscando papelão, juntando latinhas, juntando moedas para comprar o pão de cada dia.
Mulheres que desaprenderam de sonhar com um sapatinho novo para o pequeno, que não estarão jamais no grande outdoor dos templos de consumo.
Mães nas fazendas e nos campos, às vezes perdendo a filha, às vezes perdendo seus homens. Com seus gritos silenciosos e abandonados.
Onde estão os responsáveis pelas mães que não ganharão presentes materiais? O que seria um problema menor, se nem um abraço poderão ganhar, às vezes porque o filho se foi, se perdeu no labirinto medonho das ruas.
A horrível aparência da indiferença costuma se fazer de invisível, e muitos, quando entram numa grande loja de departamento com o seu cartão de crédito – a grande ilusão-, para presentear (sempre merecidamente) a sua mãe, certamente esquecem das mulheres que vagam em tanques e na poeira das ruas pobres do país.
O ideal parece às vezes uma quimera. Ninguém ousa sair por aí abraçando mães desconhecidas, como se existisse isso. A mãe é universal, esteja ela com o rosto traçado por fibras e linhas de uma jornada heróica de lutas e sofrimentos, seja ela elegante e luxuosa.
A mãe favelada que oferecia o seu seio quase sem leite para a criança faminta e olhava através das frestas do zinco para a vastidão das estrelas e ocultava em soluços o pranto amargo das saídas aparentemente cerradas, talvez caminhe por uma rua qualquer da zona leste com saudades do filho que a vida embruteceu.
Todas as mães, em todos os lugares, inclusive no centro de guerras idiotas que levam vidas promissoras. E choram o pranto mais comovente do planeta, o da mulher que perde o fruto do seu ventre.
Todas as mães, em todos os lugares: um feliz dia das mães, da forma como tal coisa pode ser para cada um. E seja quem for o filho, lembre-se, beijo sincero e abraço profundo não precisa de fila de crediário nem de saldo no cartão.
MARCIANO VASQUES
DOMINGO PEDE PALAVRA
Claro que há mães jovens e modernas. Aliás, hoje o modelo tradicional de mãe distante dos filhos tende a desaparecer. Ela vai com a filha ao Shopping usando a mesma roupa e falando praticamente a mesma linguagem.
E claro também que qualquer mãe fica feliz ao ganhar um presente. Qualquer pessoa fica.
Mas preciso falar de uma outra mãe, a que está em todos os lugares, a mãe dos filhos deste solo, a construir a sua história com sangue, suor, luta e garra.
A mãe que está nas ocupações de terra, nas vilas que são erguidas, no enfrentamento, na audácia, na coragem e na força. Mãe equilibrando-se nos supermercados para conseguir garantir a sobrevivência, também sentindo orgulho de ser brasileira, sem arredar pé da bravura e da ética.
Mulheres que estão ao redor de cada um de nós, nas periferias feridas, engolindo fumaça, na beira dos barrancos, buscando papelão, juntando latinhas, juntando moedas para comprar o pão de cada dia.
Mulheres que desaprenderam de sonhar com um sapatinho novo para o pequeno, que não estarão jamais no grande outdoor dos templos de consumo.
Mães nas fazendas e nos campos, às vezes perdendo a filha, às vezes perdendo seus homens. Com seus gritos silenciosos e abandonados.
Onde estão os responsáveis pelas mães que não ganharão presentes materiais? O que seria um problema menor, se nem um abraço poderão ganhar, às vezes porque o filho se foi, se perdeu no labirinto medonho das ruas.
A horrível aparência da indiferença costuma se fazer de invisível, e muitos, quando entram numa grande loja de departamento com o seu cartão de crédito – a grande ilusão-, para presentear (sempre merecidamente) a sua mãe, certamente esquecem das mulheres que vagam em tanques e na poeira das ruas pobres do país.
O ideal parece às vezes uma quimera. Ninguém ousa sair por aí abraçando mães desconhecidas, como se existisse isso. A mãe é universal, esteja ela com o rosto traçado por fibras e linhas de uma jornada heróica de lutas e sofrimentos, seja ela elegante e luxuosa.
A mãe favelada que oferecia o seu seio quase sem leite para a criança faminta e olhava através das frestas do zinco para a vastidão das estrelas e ocultava em soluços o pranto amargo das saídas aparentemente cerradas, talvez caminhe por uma rua qualquer da zona leste com saudades do filho que a vida embruteceu.
Todas as mães, em todos os lugares, inclusive no centro de guerras idiotas que levam vidas promissoras. E choram o pranto mais comovente do planeta, o da mulher que perde o fruto do seu ventre.
Todas as mães, em todos os lugares: um feliz dia das mães, da forma como tal coisa pode ser para cada um. E seja quem for o filho, lembre-se, beijo sincero e abraço profundo não precisa de fila de crediário nem de saldo no cartão.
MARCIANO VASQUES
DOMINGO PEDE PALAVRA
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