sábado, 29 de maio de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA

DOMINGO PEDE PALAVRA


Marciano Vasques
  

O ESCRITOR É
 
 


Sou um escritor porque escrevo, um poeta porque poetizo, isso pode ficar absolutamente claro. Há uma mentalidade declinante que considera escritor o sujeito que tem uma quantidade de livros publicados e vendidos. Tolice. Escritor é uma profissão diferente, poeta também. Um escritor pode não ter nenhum livro publicado, mas é. Sou porque me sinto, porque fui poeta. Ter ou não livros publicados é apenas uma circunstância, entre outras. O escritor é.
Quem é tratado como celebridade no Brasil corre o risco de falar o que quiser, e não encontra contestação. È difícil para qualquer um contestar uma celebridade, seja um artista da música popular brasileira ou um autor de literatura infantil.

Quando tive publicado em jornal o artigo O Pirata e as Estrelas, no qual me confessava envergonhado com a nossa elite musical, os tais medalhões, alguns, que colocavam seus nomes e imagens na defesa das grandes gravadoras – embora não explicitamente, considerando a capacidade de discernimento -, participando de campanha contra o CD pirata, quando assim foi, tornei-me um perplexo e na leitura tentei esquecer. Na leitura porque afinal ler um livro é a melhor forma de se escapar disso que está aí.
Melhor seria escrever contos ou no máximo, crônicas. Mas como sou alguém que vive intensamente o meu tempo e viver é participar, então, não há outra saída: é necessário escrever dessa forma, tentar estabelecer um diálogo, contribuir de algum jeito, mínimo que seja. É preciso prestar atenção no discurso de gente famosa. Astros às vezes peregrinam fora de órbita. Alguma coisa deve estar mesmo fora de ordem, alguma na vida real.
No passado não conseguia separar a obra do criador, por isso qualquer coisa que um “ídolo” pronunciasse, seria um grande acontecimento, com certeza um que beirasse o filosófico, pois afinal ainda se acreditava em mim que uma figura pública, da importância que tem um artista no Brasil (comparável a um esportista) só poderia abrir a boca para nos transmitir ensinamentos. O artista seria então um vale ético. A ética por excelência.  Moral, pelo menos.
Artista devia ser como professor, nem de esquerda, nem de direita. Seu lugar é na frente, devia. Nunca jamais inconfessáveis interesses deveriam ser publicamente expostos em entrevista ou em qualquer aparição do ídolo.
O lugar do poeta e do escritor certamente é o mesmo do professor e do artista. Sempre na frente. É uma deformação se atribuir ao escritor e ao poeta um lugar que não seja na frente, na frente do tempo, na frente da possibilidade de compreensão do que se apresenta na sociedade. Colocá-lo do lado esquerdo ou do lado direito, emparelhado, puxando a diligencia, num galope sem reflexão, é diminuir o seu estatuto, reduzir-lhe a missão.
Gente é pra brilhar, concordo plenamente com o artista. Gente também é para ter coerência, em todos os ângulos. Coerência às vezes é difícil, se você tem habilidade política dificilmente conseguirá ter coerência sempre.
Confesso que tenho consciência de que é difícil. Talvez a melhor solução seja o silêncio. Se o artista é obrigado a se manifestar corre o risco de antecipar vitórias.
Alô, alô, verde e amarelo: vamos prestar atenção em Michael Jackson!
Minha amiga Cátia Zela diz que nos suplementos preparados pelas editoras as sugestões didáticas para o professor são bem mastigadinhas, isso porque foi feita uma pesquisa que comprovou que a maioria dos professores não tem preparo profissional e intelectual, nunca sabendo o que fazer com os livros adotados pela escola. Já os bons professores nem chegam a abrir os suplementos, jogam direto no lixo, reforça. Não deixa de ser interessante o comentário da Cátia Zela. Mas isso é um outro assunto.
De qualquer forma, não se há de ter um sentimento ou um pensamento de arrogância para com o professor ou as suas coisas. Ele já é massacrado por todos os lados. Triste figura do magistério, outrora fora o mestre, a alma embevecida de giz e o coração enfileirado em livros. Mas tudo passa. O tempo veio e hoje a escola pública, cada vez mais parecida com o Brasil, grita por urgência. Urgência para com o professor. Há heróicos e valentes, há teimosos e sonhadores. E assim vamos...
E assim é. Escritor porque escrevo, professor porque ensino, poeta porque poetizo.

Quem compreendeu o essencial não desperdiçou o tempo.

 

Um comentário:

lu trevejo disse...

eNTAO MEU TEMPO NAO FOI DESPERDIÇADO.
SIGO-TE!