domingo, 31 de outubro de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 32

POETAS DA ALMA DO BRASIL


Um dia ele esteve em Santos. O cego em Santos no início da década de 60. A poesia dos sertões, cravada na alma daquele homem, se espalhou pelas calçadas da linda cidade.
Cego Aderaldo entrevistado pela Tribuna de Santos. Acontecimento extraordinário nas páginas do jornal litorâneo.
Chegou o Cego Aderaldo! -era assim que o povo pobre do nordeste recebia o poeta quando ele chegava em alguma casa, em alguma venda, em alguma rua da vila. Uma festa. O cantador que trazia alegria para aquela gente. Todos o amavam, era mais que amor. Era proteção, zelo excessivo. Cego Aderaldo estava ramificado em cada planta, estava nos seixos, na poeira e no vento.
Um dia, tremendo em Juazeiro. Quem viu aquele homem imenso suando jamais esqueceu tal cena. Ele esperava pelo padre.
“- Cego Aderaldo! Aí vem o Padre Cícero!”, gritava alguém enquanto um sorriso ocupava toda a largura do seu rosto. Ele, o cantor do povo, o poeta querido, ia ser recebido pelo padre.
O cantador do passado brasileiro, uma das últimas vozes de um sertão sofrido, um dia declarou a si mesmo em sua imensa solidão: - Um homem não deve pedir esmola! - Andou sem rumo pelo lugar em cego desespero, sem conseguir encontrar a saída.
À noite dormiu pesado e na madrugada sonhou um sonho estranho: que cantava numa feira. Na manhã acordou com a estrofe decorada. Interpretou tal acontecimento como uma intervenção divina.
“Um homem que canta sabe se impor!” –pensou. Saiu pelas ruas. Passou a cantar e a ganhar alimento doado pela gente generosa. Voltava diariamente para casa carregando uma sacola repleta de arroz, feijão, farinha...
O homem que um dia chorou no triste bonito enterro de sua mãe, nunca precisou pedir esmola. Seu canto passou a ser a sua sobrevivência. Em todos os locais onde aparecia, uma pequena multidão se acotovelava para vê-lo e ouvi-lo. O cearense nascido em Crato no final do XIX e que perdeu as cores aos 11 anos, que cantava para sobreviver e se recusou a pedir esmolas se tornou nas bocas e corações do povo uma lenda. Eu o conheci em 1978, exatamente um século do seu nascimento. Fiquei sabendo da sua existência através do meu aluno Francisco Moreira de Holanda. O homem que eu alfabetizava foi quem pela primeira vez me falou de Cego Aderaldo.
“Nome que começa aberto em rosa”, assim falou o querido poeta mineiro, Drummond, no Natal de 1980. O poeta começava da forma mais bela e doce a nova década. Como é preciso prestar atenção nos poetas! E aqui no Brasil, como é preciso prestar atenção em Carlos Drummond.
“A pessoa mais importante de Goiás, rica apenas de poesia” disse-nos ele. Obrigado poeta. Ele falava de uma doceira e mostrava ao Brasil aquela mulher gigante: Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nascida exatamente no ano em que Aderaldo ficou cego.
Que nome bonito, poeta! Cora, nome de coral, de colares, Cora Coralina. A mulher de Goiás que aos 76 anos teve o seu primeiro livro publicado. Cora Coralina aos 90 anos e Drummond a conheceu. Ele, o responsável por mostrá-la ao Brasil. Como se já não bastasse a sua própria presença no solo desta pátria, nos ofereceu uma Cora Coralina feita de doces.
“Acredito nos jovens à procura de caminhos novos abrindo espaços largos na vida” , isso é Cora Coralina, a mulher terra, que fazia também poemas para os gatos da sua cidade, que sempre desejou ter em seu lar um retrato de Lampião. Mulher doceira, rendeira, um pouco cangaceira, portuguesa. Assim se definiu.
Tinha vinte anos quando nasceu no município de Assaré, no sul do Ceará, o expoente maior da poesia sertaneja, a figura que se tornou legendária. Quer compreender o sertão nordestino? Vá até Patativa do Assaré.
O homem –ave aos oito anos ficou órfão do pai e teve que trabalhar para ajudar a sustentar o irmão. Talvez o Brasil atual esteja órfão dos homens cegos que cantam e das mulheres bondosas que vendem doces nas vielas e ladeiras do país.
Mão calejada, numa noite no programa do Jô deixou o apresentador impressionado. E quem há de negar aquele espanto? Só respondia rimando. O que aconteceu com a memória daquele homem é algo surpreendente numa terra avessa aos benefícios da memória.
Numa tarde fria o sertanejo que conhecia o sertão em carne e osso teve um encontro espetacular em sua vida. Esteve numa praça chamada Chamego com Luís Gonzaga. O compositor quis de toda maneira comprar a poesia “A Triste Partida” que virou bela música. Mas Patativa era mais que um cearense, mais que um sertanejo, era um legitimo cantador da sua gente de espinhos e esperanças. Não vendeu. Entrou na autoria da letra que embelezou as rádios do Brasil em Lua.
Andando de canoa ficou encantado com a lenda de uma cobra grande que engravidou uma índia.
A índia teve dois filhos e um deles, Norato, foi obrigado a matar a irmã e como castigo passou a transformar-se num belo rapaz. O homem que nasceu no Rio Grande do Sul quando Cora Coralina era a pequena Aninha que corria em Goiás, ia se transformando em folhagens, enquanto com as lendas da Amazônia se encantava.
O menino que na infância observava a mãe escrevendo versos em alemão, passou a acreditar nos seres folclóricos da mata amazônica.
No outro extremo, distante de Cego Aderaldo, participou da semana de Arte Moderna. Seu poema maior, o qual demorou 7 anos para escrever, é uma obra –prima da literatura brasileira. Raul Bopp, o poeta da Cobra Norato.
Stella Leonardos também escreveu a lenda da cobra em forma poética, e há para essa lenda muitas versões. Mas poema certamente enfeitiçado pelas verdes matas de mistérios guardados, e estranhamente belo, só o do gaúcho.
Aos 31 anos pagou para publicar “A cinza das Horas”, uma edição com 50 poemas. Pagou 300 mil-réis por 200 exemplares. Pernambucano também nascido no final do XIX, tinha três anos quando nasceu a menina goiana.
Viajando em um bonde com Machado de Assis recita um trecho de Os Lusíadas.
Um dia esqueceu os originais num sanatório em Coimbra.
Dois anos depois da sua primeira obra o pai custeava o livro CARNAVAL no qual figura o poema “Os Sapos”. Ele, o poeta tuberculoso que preferia o lirismo dos bêbedos, já era uma estrela da vida inteira. Vida que, segundo ele, o poeta da simplicidade, não teve grandes acontecimentos e que se revelou por inteira em sua obra.
Desde o ano de 1917, quando financiou com os próprios recursos o seu primeiro livro até a publicação de sua última obra em 1963, chamada “Estrela da Tarde”, Manuel Bandeira nunca abandonou o humor, constantemente presente em sua obra poética.
Em 1925 ganha o seu primeiro dinheiro com a literatura. Em 1930 publica “Libertinagem” , edição de 500 exemplares, outra obra custeada pelo próprio autor. 47 exemplares de “Estrela da Manhã”, essa foi a tiragem do livro financiado por um grupo de amigos. Um deles ofertou o papel.
Aos 51 ganha o primeiro dinheiro com poesia. Manuel Bandeira.
Em abril de 1964 ele estava no Chile e escreveu “Os Estatutos do Homem”, que deveria estar pendurado nas portas de cada apartamento para que a cidade ficasse mais cidadã. Pendurado como encontrei certo dia na porta do apartamento da amiga Rosane Regis, a jornalista que conheci quando apareceu em minha região para entrevistar o Dom Angélico.
Como “ainda é tempo de esperança” preciso falar um pouquinho dele. Talvez seja ou deveria ser uma necessidade imperiosa no café da manhã. Poeta do Amazonas. “Vida sempre a serviço da vida”.
Lembro-me de um artigo do seu poema. Se não me engano, é o último. Diz assim: “ Quando a liberdade for definitivamente algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada for sempre o coração do homem” , o Brasil e sua gente será então para sempre Thiago de Melo.
Tem um sujeito solitário lá no Pantanal que andou dizendo que para ele a poesia é mais do que nunca necessária. Para lembrar aos homens o valor das coisas simples e gratuitas. Só os poetas podem salvar o idioma da esclerose. A poesia tem a função de pregar a prática da infância entre os homens, desenvolvendo em cada um o senso do lúdico. Ele também lembrou o vicio da poesia de amar as coisas jogadas fora. E essa fala me lembrou do poema de Ferreira Gullar, que também é atencioso para com as coisas que se perdem. Manoel de Barros.
Cada vez que me reencontro com Paulo Freire, ele reaparece em minha mente. Parece que se alojou num canto de saudades da educação pela pedra.
Manuel Bandeira escreveu poemas para os meninos carvoeiros (e Jorge Amado, um romance para os Capitães da Areia) e ele, João Cabral de Melo Neto, a sigla mais poética do país, o poeta que não datava os seus poemas, um grande inventor.
Rejeitou a musicalidade que distrai e preferiu os ritmos pedregosos em que se tropeça a qualquer momento. Outro belo acervo da poesia do nosso país.
Um poeta português chegou no Brasil e escolheu Curitiba para morar. Lutava por suas idéias (o Brasil está repleto em sua história literária de homens teimosos - ver Monteiro Lobato) e amava a natureza. Por isso escreveu poemas infantis para transmitir esse amor para os pequenos. Há nesse país quem considere a literatura infantil uma literatura menor. Que coisa boba.
Seu livro de poemas, o primeiro, é um marco na história da literatura infantil no Brasil. Ganhou o primeiro premio da II Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Sidónio Muralha. Poeta brasileiro.
Quis hoje falar um pouco sobre poetas tão diferentes, mas que compõem o universo que pode ser chamado de “poetas da alma do Brasil”.

MARCIANO VASQUES

sábado, 30 de outubro de 2010

Viva a Poesia - No meio do arco-íris-


Queridos leitores,
NO MEIO DO ARCO-ÍRIS, é uma das poesias que fazem parte do meu livro "Rebenta Pipoca".
Foi editado pela Pioneira e os direitos autorais voltaram para a autora.
As ilustrações são do Marchi. Foram feitas em técnica de aquarela.
Um forte abraço a todos,
Regina Sormani


Houve um tempo diferente
Em que o Coelhinho da Páscoa
Era da Páscoa, somente.
Não era feito de doce
E falava feito a gente!

Desse mesmo tempo antigo,
Era um tal Papai Noel.
Trazia o velhinho amigo,
Na sua sacola mágica,
Brinquedinhos a granel!

Fadas vestindo estrelinhas
Que piscavam sem parar.
Rechonchudos anõezinhos,
Gnomos engraçadinhos...
Árvores que falavam
E grandes segredos guardavam.

Moravam na mesma ilha,
No meio do arco-íris,
No mundo da maravilha.
Tinha uma placa na entrada:
Pra brincar não paga nada.

Sereias, sacis sapecas,
Havia lindas bonecas
Que se mexiam sozinhas.
Dragõezinhos voadores,
Aves de todas as cores.
Um mundo pras criancinhas!

Houve um tempo esquecido...
Hoje, esse sonho querido
Vive na ilha Esperança.
E cabe, todo, inteirinho
Na alma de cada criança.

domingo, 24 de outubro de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 31

SONHOS NÃO CICATRIZAM


Mais antigo que Cashmere Bouquet é o desejo que a mulher tinha de promover mudanças na sua situação opressiva.E muitas sempre compreenderam que a luta era só delas.O fruto do seu ventre cresce, se transforma num homem e a oprime.É uma situação patriarcal, com origens remotas, que precisava ser vasculhada, sacudida. Precisava do toque feminino para ser extinta!
Lá estavam, no nascedouro do século passado, com seus chapéus e longos vestidos, lindas, com seus sorrisos. Sonhadoras, frutos do romantismo, mas como sempre, corajosas e valentes.Um tipo de valentia diferente.
Outros sonhos ao lado dos velhos e costumeiros sonhos fabricados, estimulados pela sociedade que a queria formosa, melindrosa, mãe, esposa, obediente, calada. Ao lado da eterna espera pelo príncipe encantado, a gata borralheira transfigurou-se pouco a pouco na mulher ativa, participante, dona do seu belo destino, porque afinal, os sonhos, por mais combatidos que sejam e mais seqüelas que sofram, não morrem jamais e, curiosamente, não cicatrizam.
O teatro de revista, o “belo sexo”, os decotes, as rebeliões familiares, jovens buscando freneticamente a independência, e travando suas batalhas ao lado da moda,
Em 1922, a professora poetisa convida as mulheres a colaborar com os homens.A mulher também tem o direito de votar!
Entre lenços umedecidos de éter nos carnavais, as mocinhas iniciaram uma revolução que meio século depois iria ser finalmente deflagrada.
Tanta luta e a mulher adquiriu a sua maioridade. Conquistou seus espaços.Hoje cada vez mais ocupa cargos idênticos aos dos homens, amplia os seus direitos, participa mais ativamente da sociedade, e mais ativamente do que os homens nos movimentos políticos e nas passeatas.
Na história da periferia de São Paulo, grandes conquistas têm em seu histórico a participação decisiva das mulheres, que foram para a rua, o espaço público, reivindicar, exigir.
Ela não é mais alienada, nem submissa, mas uma guerreira, uma companheira na batalha diária pela vida.
Falo de uma mulher universal, pois ainda há muito sofrimento, muita submissão por este Brasil afora e em outras partes do mundo dogmas religiosos sacrificam brutalmente a mulher, ultrajando a sua condição de ser humano.
É necessária a compreensão de que ela não é apenas a musa inspiradora do poeta, nem tampouco um pedaço de carne sem cérebro, como quer a mídia com as suas popozudas, mas sim a grande companheira e, mais que isso, voltada exclusivamente para a vida, já que é especialista nisso, pois dá à luz, oferece à luz, traz à luz um novo ser vivo, acenando assim para o futuro.
Guerra e matança não combinam com o seu jeito, o seu estilo. De ser.
Sempre penso no coração de uma mãe na guerra ao ver seus filhos morrendo.Todo o orvalho de uma manhã seria pouco para uma comparação com suas lágrimas.
Uma palavra feminina poderia ser adequada para exprimi-la: felicidade.
Mesmo com toda a dor, toda a luta, todo o sofrimento imposto a esse ser lunar. 

MARCIANO VASQUES

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Coração de Sampa - Pastelaria Yoka

Olá pessoal!


Sempre que possível visito o bairro da Liberdade, coração oriental de Sampa.
Prefiro caminhar por ali durante o dia, horário onde a insegurança é menor. Não por causa de um maior número de policiais fazendo a ronda, mas, pelo grande movimento de pessoas que chegam de todos os cantos da cidade para comprar, passear ou simplesmente olhar as lojas. Parada obrigatória é a tradicional Pastelaria Yoka que fica na rua dos Estudantes. O espaço é pequeno, mas, o atendimento é rapido e os pastéis são deliciosos, citados constantemente pelas revistas especializadas como os mais saborosos do centro da cidade. Queridos leitores, se um dia resolverem conhecer a Pastelaria Yoka, saboreiem, sem culpa, os pastéis crocantes com recheios variados e bom apetite.
Um beijo,
Regina Sormani

sábado, 16 de outubro de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA -30

A DEUSA DA EVOLUÇÃO



No mar também vivem as lampreias. Que espécie de ser vivo é a lampreia? Como é possível a convivência entre seres tão distintos, uns de rara beleza, outros assustadores, e cada qual com a sua função ou o seu modo de sobreviver. A que propósito, com que razões eles vivem? Quais as razões da natureza?
Estar dentro do vento que agita as águas, sentir na visão das ondas o fascínio dos ventos, os mistérios do vento que move o mar, o choque das águas contra os rochedos. Quem passou uma madrugada numa rocha em Ilhabela ouvindo o som das águas, ou então deitado na areia em Ubatuba, sente a vontade do universo, a verdade de que ele possui uma força mágica e compreendê-la é o mesmo que saber que não é possível permanecer fora dessa força.
Numa rocha, seria um fungo ou uma alga? Os olhos do menino estão sempre repletos de perguntas, essa é a sua beleza, esse é o seu dom. Isso é o que o caracteriza: a capacidade de perguntar, a aventura das descobertas, o prazer, a incontrolável necessidade interior de questionar.
Bem mais tarde ele saberá sobre o mutualismo dos liquens, e que o caule da planta cresce sempre em direção à luz; talvez nessa mesma época compreenderá o poeta Rimbaud.
Quando questionou pela primeira vez o mistério da planta sempre se curvando para o sol não imaginava o dia em que conheceria o fototropismo, um fenômeno natural, e descobriria que a natureza é repleta de fenômenos.
Talvez saberá de Sanchoniaton, o que um dia, encantado diante das ondas do mar chamou pela primeira vez o vento que move as águas de “o espírito de Deus”.
Antes de compreender melhor as coisas talvez deva conhecer Voltaire, encontrar nesse filósofo a porta e os primeiros degraus da torre chamada vida. E quando decidir fazer da sua existência uma vida poética demorará muito ainda para compreender que quando era menino e brincava entre as coisas e se aproximava das vidas que se moviam entre as folhas e se sentia atraído pela brisa no rosto e pela complexidade da simplicidade da natureza, a poesia se preparava para orientar a sua vida e ele já estava sendo escolhido para ser o porta-voz dos ventos, das folhas, das águas, dos seres pequenos que se movem e voam, e das crianças.Ora, isso significa apenas erguer as vozes da natureza, ofertá-las ao universo.Talvez para isso devesse antes sofrer pelo destino de Rimbaud.
Dependendo das andanças do seu espírito, terá sempre dentro de si a complexidade das perguntas incômodas, entre as quais: como é possível a convivência com a escravidão do cavalo?
Um dia obterá as respostas, pois elas sempre chegam, e verá que para libertar o cavalo, é necessário primeiro que não haja um só humano escravizado neste planeta. Mas talvez sejam necessárias infindáveis gerações para que isso ocorra, para que seja para sempre erradicada da mente humana a idéia da escravidão.
E o que o deixará calmo é a revelação de que o maior beneficio para a sua vida foi ter preenchido a alma com perguntas, ter despertado desde cedo para o questionamento sem trégua, ter convivido sempre com a curiosidade, a grande deusa, a deusa da evolução.

MARCIANO VASQUES

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Técnicas de ilustração 9


Caros amigos,

Depois de muito tempo sem querer fazer uma capa editorial, resolvi aceitar o convite para fazer a capa da última revista Época. Tive que resolver em duas horas o trabalho, pois era com urgência. Me pediram para fazer às 11 horas, para entregar às 14 horas. Tive que fazer a urna eletronica em tempo record, com as caras de Serra e Dilma e adequar à textura da obra de Michelângelo. Trabalhei com Painter e Photoshop. Gostei de trabalhar com o pessoal da Globo.

Abs,
Gilberto Marchi

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Coração de Sampa — Novela Passione

Queridos leitores,

Ontem, a Globo exibiu durante a novela Passione, o tão esperado capítulo com a morte do mega vilão Saulo.
Milhares de corações paulistanos bateram forte com a exibição da cena sangrenta, onde Saulo é encontrado numa cama de motel, assassinado.
Sabe-se que o autor Sílvio de Abreu nunca deixa impunes os seus vilões. O primeiro mau caráter a receber castigo foi Eugênio, o marido de Beth Gouveia. Esse, morreu no início da novela, por envenenamento. O interessante nisso tudo é que: quanto mais morre gente, mais a novela faz sucesso. Mestre Abreu já tem, escondidos na manga, outros tantos castigos que irá aplicar no decorrer da trama. Em resumo: os noveleiros de plantão precisam ter coração forte!

Um abraço,
Regina Sormani

domingo, 10 de outubro de 2010

NOTICIAS DA TERRINHA

Inicia a revitalização do Cine Teatro São Paulo




Graças a aprovação na esfera estadual, a Associação de Defesa do Patrimonio Histórico de Agudos – ADEPHA – conseguiu, após negociação com a AmBev, o total da contribuição permitida por lei (abatimento do ICMS) – R$ 500.000,00, que prevê a renuncia fiscal do estado, desde que para fins culturais.
É com esse recurso que as obras de restauração e revitalização do Cine Teatro São Paulo serão iniciadas nesta semana.
Porém, essa quantia não será suficiente para o término das obras e, para tanto, resta a obtenção de doações através da Lei Rouanet (abatimento do imposto de renda).
Tanto pessoas jurídicas como pessoas físicas podem contribuir, direcionando parte do imposto de renda devido, para o projeto. As doações devem ser depositadas em conta bloqueada no Banco do Brasil, que só poderá ser movimentada com autorização do Ministério da Cultura, quando atingir 20% do total previsto para o término das obras.
O escritório Master, de Agudos, - telefone (14) 3262-1084 – é o responsável pela emissão de recibos relativos à doação e esclarecimentos sobre os procedimentos para concretizar a doação.

DOMINGO PEDE PALAVRA - 24

O ROMANCE DO BRASIL


Hoje é domingo, de Cachimbo, e o domingo é para pensar, mas pensamentos que remam a leveza ao sabor do vento. Vento saboroso que traz ondulações da memória.
Escrever é essa delícia sem preço, e vamos tocando em frente, que a memória é urgente.
O "Estadão" lançou uma coleção de discos. Incompleta, meu irmão. Cadê  o "Quero que vá tudo pro inferno"? São vinte e cinco volumes, ou CDs, essa coisa que não consegui assimilar. O CD sempre foi para mim algo como o Gibi indo para o formato pequeno. Nem continuar as coleções deu mais vontade. Temos que nos adaptar aos novos formatos?
Mas quem não nasceu para formatação tem dificuldades.
Velejando vamos que a poesia me espreita. Um passeio pela canção do Brasil é algo por demais nutritivo para essa alma faminta de cultura. É um romance.
É curiosa a voz do tempo: Numa época uma canção podia estampar o máximo de rebeldia possível, Meu carro é vermelho, não uso espelho pra me pentear. Assim íamos. Hoje o que mais tem é carro vermelho, e ninguém repara se eu me penteio ou não.
A canção sempre dirá sobre a época. "Na batucada da vida" e "Pelo telefone" são documentos históricos. Falam sobre ações da polícia ou de soldados. Poderíamos ver que certas coisas não mudam. Apenas se adequam.
E a canção prossegue o seu passeio de aventuras. O que era sopro virou ventania. Patativa do Assaré e quem sabe faz a hora.
O romance do Brasil está na canção, é na alma do cancioneiro que encontramos o pulsar de um coração tropical com raios matinais de sertões que não findam totalmente. Sonhar Contigo é sonhar ao teu lado. 
Saudades da Amélia? O seu cabelo não nega. "Você me adora, me acha foda". O romance da canção é fascinante, revela em si a alma do tempo. Pois é, pra que? 
De canção poderíamos ir para a poesia, sem correr o risco de ir aos poetas. Ou seja, em princípio não é necessário ir aos poetas. Poemas como os de Quintana e até os de Drummond são de fato como um doce de Cora Coralina.
O escritor é um ser que vive perigosamente. Pensa que é fácil ser escritor? Veja o que aconteceu: Jonathan Franzen teve os seus óculos roubados e um pedido de sequestro que daria realmente muito trabalho para a polícia. Isso aconteceu na feira de Frankfurt. Escritor onde quer que esteja corre risco de vida. Pode ser assediado pela multidão, um Caetano dos livros.
Veja no Brasil. Um sujeito que escreve, além de escrever é amplamente valorizado como um profissional da Palavra. Assim como o pedreiro que ergue casas, o escritor tem os seus tijolos. De palavra em palavra ergue mundos, vendavais de liberdades, por isso a sua ampla valorização e o respeito que a nação tem pelos seus escritores.
Falando nisso, não caí na rede do aprendizado da bajulação. Só ficar na sua pode ser grave. Perco muitos e muitos rompimentos de silêncio e também montanhas de elogios. Mas sigo em frente, mesmo porque não há outra direção.
Sempre fui assim, fico inventando caminhos, atalhos, o que me der na telha, e hoje o Domingo só pedia canções.

MARCIANO VASQUES

domingo, 3 de outubro de 2010

Técnicas de Ilustração 8


Olá!

Desta vez, apresento um trabalho que para mim teve um significado muito especial. Na minha adolescência li muitos livros de Francisco Marins, editados pela Melhoramentos. Gostava da maneira descritiva e envolvente das histórias por ele contadas. Passaram-se os anos e fui chamado para ilustrar este livro de Marins. Trabalhei com guache Talens sobre papel Shoeller 4R montado. A situação por mim escolhida para a capa, foi um dos momentos mais dramáticos do livro.


Um abraço,

Gilberto Marchi

sábado, 2 de outubro de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 23



CRIANÇA DO CORAÇÃO DE OUTUBRO


Outubro se agiganta. É um mês querido. Um de seus dias é especial, e sabemos o motivo.
Elas estão aí: as crianças. Sabemos que o mundo será melhor quando o adulto olhar para a vida com os olhos de criança. Um menino, essa estrutura maravilhosa, rompe mundos e atravessa oceanos e universos com a sua imaginação.
A criança está na cantiga. Se essa rua fosse minha, eu decretava que a prioridade seria a roda de crianças. Já viu crianças brincando ao final do entardecer? Vultos relâmpagos correndo contra a luz do ocaso, dizendo que vale a pena ser levada da breca quando se tem o coração puro...
Precisamos de muito esforço, tenacidade e persistência, para educar os adultos e assim melhorar o mundo. Fala-se tanto em educar as crianças. Sim, para elas devemos transmitir o conhecimento acumulado da humanidade. Mas os adultos sim, precisam de educação. Se fôssemos listar aqui o quanto os adultos precisam melhorar para atingirem a excelência da criança, a lista seria bem longa.
Mas a consciência mundial avança. Sua evolução em espiral não tem retorno, e embora saibamos o quanto a criança é prejudicada pelo adulto, sabemos também que a cada dia cresce a multidão de pessoas com os olhos voltados para a proteção infantil.
Criança fui, numa época diferente. Fui feliz, e muito. Corria solto e livre pelo eucaliptal da vila, rodava numa ciranda de mãos protetoras numa rua larga de gansos e jardins escapando das cercas, ouvia a voz do peixeiro, do vendedor de quebra-queixo, do carvoeiro, e depois, corria desembestado para acompanhar as aventuras do Juvêncio, na Rádio Piratininga. E os gibis? Os fieis companheiros, ao lado do pião de madeira, do trem de latas de óleo que subia a serra e atravessava charcos; os gibis: uma flecha ligeira, um "Espírito que Anda", a me ensinar que "o filho substitui o pai", um Mandrake ensinando-me que a vida é mágica.
Criança do coração, que jamais abandonei.
É incrível que às vezes, quando estou muito cansado, adormeço com a ajuda daquele menino que zarpava verdes, saltava valetas e atravessava bambuzais...
É ele que me vem em companhia quando a vida está mais áspera do que devia, é ele, que ao lado de outras crianças, que hoje por aqui já não correm entre verdes alvoradas e tardes lilases, mas encontram-se diante da parafernália dos eletrônicos ou diante do computador, vivendo horas virtuais, sem saber que um dia outras crianças tantas brincadeiras brincaram que o mundo até podia ser como queria o marinheiro que cruzava os mares com sua família, e quando estava em perigo comia espinafre.
Se para as crianças um dia de outubro é dia de doces, festas, presentes e alegria, para o adulto deveria ser um dia de reflexão.

MARCIANO VASQUES