sábado, 31 de julho de 2010

Autógrafos na Bienal do Livro de SP

Olá, pessoal!

O estande coletivo da CBL, de 13 a 22 de agosto receberá os escritores e ilustradores da AEILIJ que terão a oportunidade de mostrar seu trabalho, fazer lançamentos, conversar com o público e autografar seus livros. Dia 14 de agosto, das 13 às 15hs o escritor Marciano Vasques e eu autografaremos livros da Cortez editora.
Meus livros são: " Quem tem medo do porão?" e "Uma história do outro mundo" e o livro do Marciano é: "Uma aventura na casa azul".
O estande coletivo está localizado na Rua N 42 e Rua O 43.
Ficaremos felizes com sua visita!
Forte abraço,
Regina

terça-feira, 27 de julho de 2010

Convite virtual AEILIJ na Bienal SP 2010


Meus queridos,

Estou postando o convite da AEILIJ que, pela primeira vez, irá participar do estande coletivo da CBL na Bienal do Livro de SP. É uma grande conquista! A AEILIJ e seus associados estão de parabéns. A programação completa, com o nome dos escritores e ilustradores, pode ser visualizada na planilha que se encontra no blog de Sampa:
http://aeilijpaulista.blogspot.com
Bjs,
Regina

domingo, 25 de julho de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 18

Marciano Vasques
  

A FLOR DE MURILO RUBIÃO

 

Numa manhã de setembro li um conto intitulado “A Flor de vidro”, de Murilo Rubião. Hoje setembro se vai, é a última manhã do mês que anuncia a primavera. Setembro não podia partir sem que eu voltasse a pensar nesse conto, que nunca irá embora.
Nomes brotam da garganta ou do pensamento? Saudade convive com reminiscência amarga? Seriam gotas do licor dos sentimentos deslizando pelos verdes da várzea? Gotas impondo-se diante da amargura das reminiscências, presentes no que teria restado da flor de vidro?
Tal como o “verde dos teus olhos se espalhou na plantação”, da canção de Lua, o “sorriso dela brincava na face tosca das mulheres dos colonos” e se espalhava pelo ambiente, pela paisagem cotidiana do conto.
O sorriso dela ia mais longe, acompanhava o trem de ferro, que na monotonia da sua passagem, trazia num crescendo o seu nome, como se fosse um sussurro balsâmico, reconfortante.
O conto de Murilo Rubião fala ao leitor de vidas que não se vão, estilhaços, talvez hematomas, talvez devaneios da alma, que permanecem inquebrantáveis, como quiçá uma flor de vidro, que sobrevive intacta na memória das coisas. Metáfora dos fragmentos da memória insistente.
Reencontro de vidas, de corpos que parecem não envelhecer, amores da fazenda, entre aleias de eucaliptos. Histórias jamais interrompidas, alimentadas por insônias, noites veladas pelas eternas moscas.
Sonhos que são seivas, que renovam o corpo, que rejuvenescem, que devolvem o tempo aos amantes, aos que nunca se foram. O texto de Rubião fala dessas coisas. De pessoas que vagam nos limites dos sonhos, que reencontram o brilho dos olhos.
Amores vividos intensamente nas matas, entre orvalhos e folhas reluzentes, fotossínteses de auroras, orlas, trilhas amorosas oferecidas pela amizade da natureza.
Há um lugar no qual um namorado retorna com uma flor azul. Um lugar que está num conto, um conto de aguaceiro, do movimento do trem, e a visão da flor de vidro.
A palavra grávida de sentidos (Góes), nos fala de uma flor de vidro, - de uma imagem onírica?-, do trem de todas as tardes da janela da fazenda.
O texto solicita a resposta ativa, a recriação pela leitura, aprofundamentos, profundidades que surgem nas camadas das releituras, pois cada leitor é um palimpsesto, um velho pergaminho no qual os significados vão se sobrepondo a cada novo olhar, num texto que sempre se transforma pela ação do leitor.
Catalisador da imaginação ativa, o conto desperta o leitor para a ação (a ação do olhar), para a busca de significados, pois “A melhor arte não é a que se apresenta numa bandeja de prata, mas a que desperta a capacidade do leitor para a ação” (in Nachmanovitch, Stephen: Ser Criativo, Summus editorial,São Paulo, 1993).
Época de amores efêmeros, excesso de imagens, contribuições vanguardistas das tecnologias, é bom retornar ao conto da palavra que segue mansamente no mato varrido pela chuva, e nos interrompe a corrida cotidiana, para nos lembrar que o apito do trem de ferro talvez nos queira dizer algo.
Vale a pena o leitor entrar em contato com o conto, passear nele como se fosse igual aos amores “que terminam na mata”, tentar decifrar o mistério da “flor de vidro”, estabelecer as conexões, desvendar o aparentemente insondável, mas sobretudo, ir de encontro a uma linguagem poética, que busca na simplicidade da narrativa a lapidação dos sentimentos, coisa de orvalho passando do capim para os pés.



quinta-feira, 22 de julho de 2010

Técnicas de Ilustração 6- Perua e Pintinho Azul



Olá pessoal! Desta vez apresento uma vinheta integrante do livro "As aventuras do pintinho Azul", de Regina Sormani, editado pela Paulus. A técnica utilizada foi Ecoline e caneta Micron. Para quem não conhece ou ainda não utilizou, Ecoline é práticamente uma anilina de boa qualidade, semelhante à uma aquarela diluída. È muito boa para ilustrar, mas, o inconveniente deste material é que se o trabalho ficar muito tempo exposto à luz solar, poderá desbotar gradativamente.

Um abraço,
Gilberto Marchi

Assembleia da AEILIJ na Bienal do Livro de SP

Caros amigos,

Nossa assembleia na Bienal do Livro 2010 foi marcada pela CBL para dia 13 de agosto, sexta, das 11 às 13 hs no auditório Monteiro Lobato.
A presidente da AEILIJ Anna Claudia Ramos já confirmou presença. Durante a assembleia, na qual estarão presentes
representantes das 9 regionais, serão abordados temas como: direitos autorais dos escritores e ilustradores, assuntos relativos à profissão, eleições de 2011 e vários outros.
Aguardamos sua presença.
Um abraço,
Regina Sormani coordenadora regional AEILIJ SP

domingo, 18 de julho de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 17


  

FLORESTAS, DOCES E BALAS

Hoje é domingo, e domingo pede cachimbo, mas também domingo pede palavra, e palavra ao pé do ouvido, que é para o ouvido andar ligeiro e espalhar os contos que se contam por aí. Vagar talvez  na ventania dos campos da imaginação, nos floridos e férteis campos do encantamento. Quisera que todos os adultos também fossem assim: os olhos lavados no riacho da poesia, a boca sedenta do beijo da Literatura.
Quisera todos os versos, o profano, o doce, todos, num imenso poema, mais doce do que churro, mais sincero do que a menina de pés descalços a correr nas andanças do letramento da vida, que se perdem na poeira da memória.
Quando eu era mais menino ouvia um conto, que bem mais tarde vim a saber que se tratava de um conto alemão, recolhido entre as folhagens do saber da oralidade de um povo. Minha  mãe - agora eu sei - sentia um gosto imenso em contá-lo e eu, fiapo de gente, pé ligeiro na água orvalhada de riachos, eucaliptos e ciganas, lá estava no cheiro do bolo de fuba e na imaginação do rabinho do ratinho que era o dedo do menino engaiolado que não engordava.
E havia uma bruxa e assim eram as histórias que se prezavam. Deliciosas como bolinho de chuva, como o chocolate quente do bule ou como aquela coisa do Natal, raba...raba...rabanada.
Uma bruxa terrível, que comia crianças, - só não comia menino magrinho - e naquele colo e naqueles braços, me punha a pensar se ela comeria os irmãos em forma de mingau, ou ensopado, ou assados, feito pernil.
Ainda bem que a bruxa era cega e meia tantã, pois senão teria percebido que o dedo do menino era na verdade o rabinho de um ratinho.
Aquelas crianças foram abandonadas numa floresta, e no meio do caminho e do desamparo encontraram uma casinha feita de doces. Mãe não precisava descrever com tanta perfeição a casinha, mas ela fazia isso, e lá estavam todos os doces que eu gostava, todos, e o telhado da casinha era de lambuzar os beiços. Mas era uma utopia.
É disso que se trata afinal: utopia. enriquecimento da imaginação que sempre acontece quando a vida é por demais miserável, quando o sofrimento atinge as condições terríveis de se viver.  Povos em sofrimento insuportável edificam utopias, e assim era a casinha feita de doces diante dos olhos daquelas crianças esfarrapadas, esfomeadas, abandonadas e desamparadas.
Naqueles dias, naquela floresta alemã, as crianças encontraram uma casinha feita de doces. Hoje, numa outra floresta, uma criança numa sala de aula encontra uma bala perdida.

MARCIANO VASQUES

sábado, 17 de julho de 2010

Vem aí a Bienal do Livro de São Paulo

Meus queridos,
De 12 a 22 de agosto de 2010, acontecerá, no Parque Anhembi, a tão esperada Bienal do Livro de São Paulo. O primeiro dia, 12 de agosto, será reservado à imprensa, editoras e livreiros. A partir do dia 13, nós, autores: escritores e ilustradores nos encarregaremos de movimentar os corredores da Bienal com nossa presença e a energia dos amigos e leitores que lá estarão para nos prestigiar. A AEI-LIJ foi convidada e irá participar do espaço coletivo da CBL, juntamente com outras sete entidades do livro. Os escritores poderão mostrar seu trabalho, autografar, receber escolas, fazer lançamentos, conversar com o público. Os ilustradores irão demonstrar técnicas, tais como: xilogravura, massinha, guache, lápis, pastel e aquarela.
Disponibilizamos uma planilha para os associados da AEI-LIJ que desejarem participar do espaço coletivo no blog de Sampa:
http://aeilijpáulista.blogspot.com

Grande abraço,
Regina Sormani

domingo, 11 de julho de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 16

Marciano Vasques
  

A FELICIDADE DO MUSEU

 

 

A expressão "tal coisa é um museu" é uma das mais tolas invenções da língua. Bobagens cotidianas. Uma das inúteis vulgaridades dos dizeres.
Geralmente se atribui tal expressão em referencia às pessoas que têm hábitos antigos, tranqueiras mentais ou objetos amontoados. Há um certo desdém, um certo preconceito na expressão.
Entretanto, o museu pertence ao universo do livro e isso já diz tanto que nem precisaria muita argumentação para retirá-lo dessa expressão. Ele tem o estatuto do livro, há algo de sagrado nele, um certo viés de encantamento, uma solicitude toda própria, que remete ao livro, de quem a alma pode no museu reencontrada ser.
Museu é a outra extensão da memória humana. A primeira já nos apontou Borges numa palestra em que do culto ao livro falava.
Quando o museu se abre para a visitação nos coloca em contato com a memória preservada e nos oferece uma chance de viagem ao passado, nos aproximando da eternidade. A máquina do tempo da ficção cientifica está transfigurada no museu, uma espécie de templo sagrado da memória.
O museu está lá, e estar nele ainda não encontrou substituto. Antecipo argumentos de que o museu pode ser transportado até a nossa casa pela Internet, mas o que ocorre de fato é que o museu está na tela, como poderia estar num livro repleto de fotos, mas você não está nele, nós não estamos nele.
Deixo de lado o prazer dos objetos antigos, da peças históricas , roupas e utensílios e levo-me até a pintura, é nela, através dela que inicio as minhas viagens ao passado. A pintura consegue o dom da eternidade.
Alguns museus ser lembrados precisam sempre, como o Museu do Prado (neste momento lembro de Caetano compondo a canção “Terra”), fundado em 1819 com três dezenas de quadros e hoje é um dos mais emocionantes do mundo. Nele estão os mestres da Espanha. Entre os quadros, lá está “As Meninas”, de Velazquez, e “Paisagem: embarque em Ostia de Santa Paula Romana”, de Cláudio de Lorena.
Dias felizes que já vivi são inesquecíveis. Um deles quando fui ao Masp ver uma exposição de Renoir. Noutro fui à Pinacoteca. Lá um dia é pouco e eu diante de Almeida Junior e aquela obra magnífica, tão bela. Depois, ao lado da Pinacoteca, a Praça da Luz. Uma imagem de harmonia e paz, que só era interrompida pela brusca visão de uma enorme propaganda de refrigerante num edifício. A tal força da grana.
Diante da imensa decepção política que assola o meu coração penso em Goethe e em sua razão.Talvez uma torre de marfim tenha um saldo positivo, extremamente benéfico. A palavra: “positivo” costuma soar inadequada. Enfim, viva Goethe! Para sempre!
Sobre o quadro de Velazquez, há o livro infantil de Jane Johnson intitulado “A Princesa e o Pintor”, originalmente lançado em Nova York em 1994 e que trata da amizade da infanta Margarita com seu amigo especial que sabe que ela é antes de tudo uma criança que precisa de amor e afeto. A historia começa no dia em que o pintor vai terminar o quadro da princesinha da Espanha.
Esse quadro foi pintado quando a princesa tinha cinco anos e desde aquele distante ano  ele nos olha, tal como uma das meninas do quadro “Rosa e Azul”. Esteja em qual ângulo você estiver, o olhar da menina estará em sua direção, dirigido a você, olhando exatamente para você. Mistérios da arte!
O museu de Louvre! Deixemos Madri e vamos até Paris. Que coisa linda! Que monumento maravilhoso! Passar um dia no Louvre é viver por uma vida. Estar ao lado do Sena, no museu que foi originalmente um palácio construído na renascença para receber obras primas, um belo gigante que abriga o sorriso da “Monalisa”, que abriga também “A rendeira” de VERMEER, maravilha da arte na qual os tons azuis vão se impondo, se alojando na pintura.
Também de Camile Corot, “A Dama Azul”, pura solidão enigmática, o que estará afinal a pensar aquela mulher? Jamais saberemos. Essa é a beleza! Quisera lembrar outros quadros do Louvre, mas, eu? Sou quem? Apenas por uma associação de idéias, por uma tal muito particular mnemônica na qual o azul me levou de “A rendeira” para “A dama de Azul”.
O olhar da menina olhando exatamente para você, dizendo algo sobre a beleza do mundo, sobre a eternidade. Eis algo do qual não se pode descuidar, e isso está na arte.
Sobre as águas do Báltico, o Museu Nacional de Estocolmo, fundado lá pelo final dos 1700, aberto um ano antes do Louvre.


Lindo e nele está “Ternura Maternal” de Carl Larsson.
Na capital da Holanda tem o Museu do Estado, Amsterdã, com o seu “A Ponte de Pedra” de Rembrandt, jogos de luzes, nuvens, cores, impressões tão belas que a alma num riacho se dissolve...
Com a Europa em guerra (a segunda guerra mundial, na década de quarenta) os holandeses empacotaram telas e as distribuíram pelo país. Para serem salvas de um bombardeio, as telas foram espalhadas em vários cantos das cidades, obras de artes em abrigos nas dunas de areia e o quadro “A ronda da noite” foi empacotado e posto a salvo num abrigo subterrâneo. Holanda cada vez maior. E Johannes Vermeer com “A Cozinheira”. E a insistência do azul numa peça de roupa. A cada retorno do azul a amplificação da felicidade.
E assim vamos...
Lugares que se foram, paisagens, momentos, extensão da memória humana, isso tudo é o museu. O museu é a permanência das coisas que se foram.
Se pudesse visitar todos os museus, estar no Museu Histórico de Viena, nas pinacotecas, em Berlim.

Originalmente, o templo das musas,lugar vivo,de vida latejante,esplendor da memória humana, nada a ver com velharias. Amo profundamente os museus. “O reino da luzes”. Museu, lugar da felicidade, umas das possibilidades de felicidade ao alcance de todos.
“O império das luzes”. Há um livro que li em meu castelo. “Em busca do tesouro de Magritte”, de Ricardo da Cunha Lima.
Museu, lugar da felicidade. Extensão da memória humana que também se ramifica no livro, no cinema...



sábado, 10 de julho de 2010

NOTICIAS DA TERRINHA

ANIVERSÁRIO DE AGUDOS

Nossa querida cidade estará, no próximo dia 27, completando 112 anos.
Como todos os anos, a Prefeitura Municipal de Agudos comemora esta data durante todo o mes de julho.
De 1 a 4 de julho aconteceu a Festa dos 112 anos da Paroquia São Paulo Apostolo;
Dias 10,11,16,18,23,24,25,27 e 30 haverá shows musicais na Praça Tiradentes;
Dia 18 haverá desfile de Bandas Marciais e campeonato de Skate;
Dia 24 feira cultural do médio Tiete;
Dia 25 Carreata de São Cristovão, Concurso Garota Cidade e Ciranda de esporte e lazer rural Senar;
Dia 27 Missa e Show com a Orquestra Sinfonica de Bauru;
Dia 31 e 1º de agosto Encontro de Motociclistas e Corrida de Motard e Show de manobras de carros.
Teremos diversão para todos os gostos. Venha aproveitar suas férias em Agudos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Viva a Poesia! - Uma história do outro mundo-

Queridos amigos,

Retirei esses versos do meu livro "Uma história do outro mundo" editado pela Cortez.
Esse texto relata a história dos fantasmas apaixonados Romeu e Julieta. Ambos se conheceram e se inscreveram como dupla romântica no Fanfau, o fantástico festival assombrado universal, realizado nas geleiras do Alaska. Desse festival participaram estranhas criaturas: as vampiretes, o Lobisão, o Frank Grandão e várias outras personalidades do outro mundo. Espero que vocês leiam e se divirtam muito.
As ilustrações são do Marchi.

Um abraço,
Regina Sormani




"Subiu na primeira árvore que encontrou, lá bem no alto. E começou a compor"...

Daqui de cima vejo tudo escuro
Um gato preto andando no muro,
Um pobre cão virando lata
E a solidão me maltrata.
Sou um fantasma sozinho,
Quem irá cruzar o meu caminho?

sábado, 3 de julho de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 15

Marciano Vasques
 

 CALEIDOSCÓPIO DA ALMA


Pus-me a pensar que se conta a história do povo brasileiro através da poética presente em nossa canção. Pode-se, num recital poético, numa encenação, contar essa história. Isso não é novidade e há grupos espalhados nas periferias do país que fazem isso, às vezes pincelando o empreendimento com as cores de um cristianismo humanizado, colocando-se o cristo na história. Geralmente são grupos que montam suas encenações para apresentações em creches e em entidades populares. Alguns artistas do povo contentam-se em cantar nas manifestações populares e apareceram na tv Globo em cenas de reportagens, como o caso do casal Justino e Magnólia, que nunca compreenderam a necessidade de uma aproximação com a profissionalização de seu próprio canto, e quando os levei à TV cultura, na gravação do Programa da Inezita Barroso nem se deram conta de como o caminho deles está traçado sobre uma ilusão, e de como poderiam ter levado o seu canto para o palco das luzes, além do palco da luta política.
Com um pouco de audácia é possível a suspensão do cotidiano culturalmente padronizado, onde a cultura autêntica do povo está pulverizada, e as necessidades midiáticas regidas pela “força da grana” impõem um sabor insosso e uma coisa sem graça como “aquilo que o povo gosta!”.
Com esta suspensão, encontra-se a história do povo brasileiro nos versos da nossa canção: Patativa do Assaré, Celestino, nossos compositores, e suas letras poéticas: Lata dágua na cabeça, Ave-Maria no morro, Camisa listrada, A triste partida, Súplica cearense, e seguimos em frente até o porto do requinte, a linguagem poeticamente burilada, o artesanato, a nata da arte, de Caetano, Gil, Chico Buarque, e outros...
Nossa canção significa o romance brasileiro, a história do povo é cantada através dela, o Brasil do sul, o Brasil do nordeste...

A nossa riqueza cultural é imensa, musicalmente imensa, poeticamente imensa, dos doces de Cora Coralina à ciranda que mora na ilha de Itamaracá. 

A nossa herança é múltipla, herdamos o sentir lusitano, mas fomos abençoados pela África, a grande dama de leite da Europa, sem contar a mescla de gentes que fazem do nosso país um imenso caleidoscópio humano, múltiplas formas e cores, que transformam a nossa canção no imenso palco no qual canta-se a história do povo brasileiro .
Magnólia e Justino simbolizam nossos artistas da periferia, tantos que daria para abraçar o país numa enorme ciranda, mas como é possível que essa gente tenha se tornado apenas consumidores passivos, passageiros do trem da Central do Brasil ( Uma homenagem aos velhos trilhos...)?
A cultura autêntica do povo não é de toda reacionária, embora seja geralmente conservadora, tomando-se aqui o sentido estrito da palavra, o verbo em si: conservar. Não é verdade, obviamente, que a cultura do povo seja a música empobrecida que se toca na rádio, as moças que rebolam mostrando a bunda, as infelizes moças, com seus seguidores, milhares de sobrinhos. Infelizes, mas com um bom talão de cheques, dirão alguns. Sim, mas serão eternamente infelizes e tristes, porque incapazes de viver uma vida autêntica, e por esbofetearem a consciência com seus deleites insensatos. Incapazes de uma graciosidade autêntica, seguem mostrando a bunda e rebolando com suas músicas idiotas, distantes da vida cheia de vida do povo, e acreditando que estão vencendo na vida artística, sem compreender que a memória do futuro passará por elas indiferente.
O nosso povo não merecia isso, mas os ditames da razão não se impõem diante do poder econômico, no entanto, um dia, rebola&bola vai passar, não é, compadre? E os olhos aleijados, que se habituaram a ver beleza onde há equívoco, finalmente estarão livres e límpidos.
O que herdamos do sangue lusitano, do sangue africano, a sensualidade, a graciosidade, o lirismo, o colorido, essa mescla de sentimentos, essa efusão de ser, essa vontade de canto, essa fibra, essa febre, essa ganância do coração por saudades, adeuses, partidas e chegadas, esse modo de ser, que pode estar pulverizado no abandono, mas que jamais será totalmente dissolvido, pois sempre restará nalgum canto a possibilidade do renascer,tudo isso não há de ser em vão, e as moças ridículas e sem graciosidade, das bundas, elas com certeza terão um encontro com a consciência .
A patativa do norte, a canção celestina, Luiz do baião, o romance do povo brasileiro escrito nas letras da nossa canção, nada será em vão, e após a passagem do vendaval da vulgaridade, da pobreza musical, do descaso atual, o marasmo, a idiotice que se apossou da música, transformando-na no mais infeliz dos acontecimentos comerciais de nosso tempo. Nada será em vão e certamente a poesia descerá sobre a terra, como o Natal que um dia outros poetas clamaram.
A poesia descerá sobre a terra, o que significa dizer, ela estará definitivamente no coração humano, e retomará a sua condição de contadora de histórias, e registrará em nossa canção a história do povo, e a linda pequena cantará a canção saudável e haverá festas de bailados, e coloridos de quermesses e parques, e alegrias sem remorsos, e uma felicidade valsará em cada coração .
O que herdamos é essa gentileza poética, esse caleidoscópio que é a nossa alma. Nela se refletem cores e áfricas.

Nossa alma tem em sua natureza um caleidoscópio e é sobre isso que divagam os poetas, os que vagam em lumes, os que extravasam, os que extrapolam, os que sinceramente se recolhem para proteger contra o vendaval os seus afazeres poéticos.