sábado, 2 de outubro de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 23



CRIANÇA DO CORAÇÃO DE OUTUBRO


Outubro se agiganta. É um mês querido. Um de seus dias é especial, e sabemos o motivo.
Elas estão aí: as crianças. Sabemos que o mundo será melhor quando o adulto olhar para a vida com os olhos de criança. Um menino, essa estrutura maravilhosa, rompe mundos e atravessa oceanos e universos com a sua imaginação.
A criança está na cantiga. Se essa rua fosse minha, eu decretava que a prioridade seria a roda de crianças. Já viu crianças brincando ao final do entardecer? Vultos relâmpagos correndo contra a luz do ocaso, dizendo que vale a pena ser levada da breca quando se tem o coração puro...
Precisamos de muito esforço, tenacidade e persistência, para educar os adultos e assim melhorar o mundo. Fala-se tanto em educar as crianças. Sim, para elas devemos transmitir o conhecimento acumulado da humanidade. Mas os adultos sim, precisam de educação. Se fôssemos listar aqui o quanto os adultos precisam melhorar para atingirem a excelência da criança, a lista seria bem longa.
Mas a consciência mundial avança. Sua evolução em espiral não tem retorno, e embora saibamos o quanto a criança é prejudicada pelo adulto, sabemos também que a cada dia cresce a multidão de pessoas com os olhos voltados para a proteção infantil.
Criança fui, numa época diferente. Fui feliz, e muito. Corria solto e livre pelo eucaliptal da vila, rodava numa ciranda de mãos protetoras numa rua larga de gansos e jardins escapando das cercas, ouvia a voz do peixeiro, do vendedor de quebra-queixo, do carvoeiro, e depois, corria desembestado para acompanhar as aventuras do Juvêncio, na Rádio Piratininga. E os gibis? Os fieis companheiros, ao lado do pião de madeira, do trem de latas de óleo que subia a serra e atravessava charcos; os gibis: uma flecha ligeira, um "Espírito que Anda", a me ensinar que "o filho substitui o pai", um Mandrake ensinando-me que a vida é mágica.
Criança do coração, que jamais abandonei.
É incrível que às vezes, quando estou muito cansado, adormeço com a ajuda daquele menino que zarpava verdes, saltava valetas e atravessava bambuzais...
É ele que me vem em companhia quando a vida está mais áspera do que devia, é ele, que ao lado de outras crianças, que hoje por aqui já não correm entre verdes alvoradas e tardes lilases, mas encontram-se diante da parafernália dos eletrônicos ou diante do computador, vivendo horas virtuais, sem saber que um dia outras crianças tantas brincadeiras brincaram que o mundo até podia ser como queria o marinheiro que cruzava os mares com sua família, e quando estava em perigo comia espinafre.
Se para as crianças um dia de outubro é dia de doces, festas, presentes e alegria, para o adulto deveria ser um dia de reflexão.

MARCIANO VASQUES


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