sábado, 20 de novembro de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA -35

O OLHAR EDUCADO

É preciso educar o olhar para a libélula, para o ofertório da natureza e assim então com o olhar purificado pela visão ofertada pela natureza, proclamar o menino, resgatar a criança e trazê-la de volta.
Essa busca do menino como símbolo da vida autêntica deve prosseguir a cada dia e para que isso ocorra o olhar não pode estar embaçado pelas agruras do cotidiano.Para que seja educado deve dirigir-se para as coisas efetivamente simples.
Também é necessário que se eduque o olhar para o rosto, para a visão do rosto humano, para que ele, o olhar, reconheça no rosto os traços de uma vida, de uma história, e veja que o menino, o jovem e o velho se encontram no mesmo rosto ao mesmo tempo.
É necessário o despojamento, o desvio das imagens distorcidas fornecidas pela vida contemporânea. O olhar deve recusar a poluição visual, deve ter a coragem e o desprendimento do desvio.
É preciso olhar para o jardim ao mesmo tempo em que os ouvidos deverão se preparar para ouvir novamente a mais comovente briga de amor, como se a ouvisse pela primeira vez, e quando a cantiga penetrar limpidamente nos ouvidos com certeza o menino estará reassumindo o seu lugar que é o mesmo no qual se planta o cravo e a rosa.
Estamos também vivendo uma época de violência e ela se manifesta nos pequenos gestos, nas indelicadezas, no trato com as coisas, na maneira como se batem as portas.
Talvez seja preciso que o ouvido se torne capaz de ouvir as onomatopéias da alma, que são as vozes da natureza, emanadas pelos seres como o grilo e o canário, como o bem-te-vi ou as águas cristalinas escorrendo sobre o cascalho.
A proclamação do menino deve ser simultânea à educação do olhar e o ouvir, e ao desabrochar da relação mais humana e menos instrumental entre as pessoas.
É necessário que se preserve a criança, que se proteja as suas fronteiras, pois a invasão das fronteiras da infância é um perigo para o futuro da humanidade, a exposição geralmente grotesca da criança é algo que precisa ser analisado com seriedade e preocupação por todos.
É preciso ainda se compreender que uma pessoa que venceu, que conseguiu se realizar, com certeza teve alguém na vida que um dia lhe dizia: -Você pode! Você consegue! - E então, com esta compreensão se verificar que todos podem ir além.Isso uma criança deve aprender desde cedo, deve ter pelo menos uma vez alguém no caminho dizendo que ela pode, que ela é capaz.
Ninguém nasceu para a frustração, pois frustração e humilhação são fatores culturais, são criações humanas, frutos de um sistema opressivo, de uma sociedade danosa, cujo olhar precisa ser urgentemente educado.
É melhor orientar a criança para um crescimento saudável, preservando-a de uma invasão, de uma exposição grotesca como ocorre atualmente, quando o mundo adulto quer transmitir até mesmo uma visão equivocada, deturpada, do que seja a sexualidade humana, limitando assim a criança no seu entendimento.
A sociedade após limitar a sexualidade somente ao genital, invade as fronteiras da criança para efetuar uma exposição grotesca da mesma.
O olhar educado poderá compreender plenamente que isso, essa situação descrita, é um artificialismo, um produto do comprometimento de setores da mídia com o lucro e o acúmulo de riquezas. Acúmulo ilícito quando a sociedade se deterioriza.

MARCIANO VASQUES

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