AMARGURA DEMAIS ENJOA
Bom escolher o grau de amargura para a sua vida e para o seu momento. Isso não se aplica nos casos de tragédias e perdas de pessoas queridas. A morte sempre traz consigo uma dor inevitável. A única certeza da vida é a que mais sofrimento traz.
Porém, nos outros casos a amargura pode ser dimensionada, pode ser planejada,
quantificada, medida em graus. Eis o primeiro passo. Conheça bem as medidas da sua amargura. É com ela que irá lidar, é ela que enfrentará.
Pode escolher como grau primeiro a amargura do jiló.
É uma amargura interessante, pois é quase lendária, e a que existe de fato, pode ser resolvida com um simples tempero e um simples refogado. Jiló que se preze é consumido com prazer pelos amantes da boa culinária.
Um segundo grau da amargura é a do boldo.
Aí é mais complicado, mais forte, mais grave, mais difícil de se lidar. Tendo escolhido a do boldo, a etapa seguinte é a do equacionamento, de como lidar com ela, como conviver com essa amargura, e em certos casos como fazê-la funcionar- como se fosse uma auxiliar, uma ferramenta, e, mais adiante, uma companheira, e até excelente, pois pode desempenhar o papel coadjuvante ou protagonista de muleta ou cadeira de rodas, e em casos mais graves, de imobilidade total.
Feito isso poderá permanecer para sempre com ela se quiser, a vida é sua.
O terceiro caso, também profundamente gravíssimo, é a amargura da losna, que, dizem, é mais amarga do que boldo.
Tendo escolhido a sua amargura, e tendo enquadrado-a em graus, resta seguir em frente e dela fazer bom uso, aproveitando da sua nova condição para ser beneficiado pela camaradagem. Não poderão molestá-lo, nem deverão incomodá-lo exigindo atitudes, mobilidade e decisões. Não será chamado por ninguém de Sr. Decisão. A maioria dos amigos não será exigente com você. Para que incomodar um amargo? Para que atormentar quem em amargura vive? Ninguém chuta amargura. E como tristeza costuma dar ibope, poderá se tornar muito apreciado por alguns amigos, que provavelmente adoram ver gente triste.
Ora, que importam os motivos? Para quê o incômodo da sacudidela? Para quê? Melhor permanecer com a tristeza, com o amargo, e evitar ao máximo o sacolejo. Afinal não é uma amargura brotada da mais autêntica dor, é uma que nasceu de um problema qualquer, de uma aflição cotidiana.
Melhor permanecer na tranquilidade que só uma amargura assim pode proporcionar. É uma injustiça medonha incomodar um amargurado, exigindo dele uma atuação diante de um problema.
Deixe-o em paz, deixe-o curtir a sua amargura, ele afinal a mereceu. As coisas não estavam bem, um namoro que se findou, um negócio que não deu certo, a reprovação em um concurso, dívidas intermináveis, um carrossel de dívidas insolúveis, patrão, mulher, trânsito, insatisfações pessoais, governo. Tantas são as causas, que toda amargura pode e deve ser justificada. Ser amargo é como ser triste. Tem as suas vantagens.
Um ídolo musical de juventude pode ser engendrado pela indústria cultural tendo como suporte maior a sua tristeza, ou pelo menos, os olhos tristes. Sempre dará certo. A tristeza desencadeará sentimentos maternais, sempre adormecidos em cada um de nós, pois a natureza primeira do ser é a de mãe. É a própria natureza da terra.
Se você falar para uma criança que ela é tímida, estará dando a sua contribuição para a construção de um adulto tímido, e assim é com a tristeza, basta comentar que fulano é triste, e ele certamente gostará, embora não o revele, mas lá no esconderijo, lá no mais íntimo do ser, é bom ser saudado como triste.
Alguém triste é praticamente intocável.
É digno e merecedor de todos os cuidados. Generalizando, a maioria gosta mais do triste. Geralmente ele não incomoda, fica no seu canto, e dele não se exigirá uma ação enérgica, uma ação para a luta e para a mudança das coisas. Ele pode até estragar uma festa ao tentar contagiar a todos, mas é só deixá-lo de lado curtindo a sua tristeza, que é o que ele mais gosta, embora não confessadamente, e com exceções.
Um triste, um melancólico, um amargurado, é quase um ídolo.
Para a sociedade, um triste faz mais efeito, um amargurado é mais interessante. A idolatria do triste começa na inspiração dos cuidados excessivos. Ninguém gosta de burilar a "paz" de um triste. Um triste pode ir a um parque de diversões, mas continuará triste, pois esse é o seu maior alimento.
O portador de alegrias não é tanto apreciado, pois ele tem o péssimo hábito de incomodar. Já pensou um sujeito muito alegre em uma roda religiosa? Seria uma blasfêmia, uma arrogância, um desatino, uma profanação, pois a maioria das religiões ergueu-se sobre o sofrimento, e estendeu o véu da tristeza aos seres de oração. Os fundadores das religiões não agiram em estado de festa, dançando, cantando em profusão de alegria. Para que uma religião fosse fundada, deve sempre ter havido a condição primeira. Deve ter havido a tristeza. Ela pode ter sido um dos motivos responsáveis pelo "impulso natural do ser" para a religião. Tristeza com sua força de escravizar, com seu estatuto de escravocrata. Escravidões do mundo jamais desprezaram a tristeza. Nem as religiões.
A tristeza atrai mais adeptos. Uma religião de gente feliz, alegre, que dança, que explode em risos, que festeja, com o vinho da alegria, a vida, com certeza será banida, confinada, ou evitada ao máximo, dependendo da fase histórica da humanidade.
Como é bom ser triste! Como é reconfortante ser amargo, viver em condições de amargura. Como isso é paralisante! Como é bom ficar em seu próprio canto, remoendo, cabisbaixo, vendo a caravana passar. Amargura, como eu a quero! Assim terei a atenção de todos, dos amigos, dos parentes, dos psicólogos, todos estarão pré-ocupados demais com as causas e as soluções da minha amargura, da minha tristeza, e ninguém irá me chatear nem me incomodar, exigindo que eu vá à luta.
Ir à luta por quê? Amargurado é já um perdedor. Então melhor se recolher, se encostar, melhor ficar num canto qualquer se rastejando, andando onduladamente, deixando um rastro amargo no caminho. Amargurado e triste, a se rastejar, a se curvar, mas ficando em paz com os seus motivos, tendo conquistado o direito de ficar em um cantinho lendo o jornal, assistindo a um filme, tomando um sorvete, comendo pizza e mais pizza, ou simplesmente ligando a TV...
Tem um detalhe: amargura demais enjoa. Isso mesmo. Se os motivos não são a perda de um ente querido, uma tragédia, então a amargura vai incomodar depois de um certo tempo.
Como ela é, a exemplo da tristeza, um sentimento paralisante, uma forma de imobilização do ser, um acomodamento das forças produtivas, uma redução na potência original de cada um, pode ser reconfortante e gratificante por um determinado tempo, por conta dos benefícios de uma atenção alheia nada exigente. Considerando que vivemos a maior porcentagem de nossa vida em função da atenção alheia, — por isso nos exibimos—, é notável o fato de que sempre damos uma importância exagerada ao que pensam de nós, e a forma com que nos apreciam, nos examinam, nos medem, nos moldam, e quase sempre são tão generosos com a nossa imobilidade!
Se durante um determinado tempo a amargura é benéfica, depois ela começa a se esgotar, a murchar, começa a perder o sentido, e começa a incomodar, a querer e a clamar pela sua própria expulsão, a solicitar o seu próprio esmagamento, por causa da sua natureza primordial, que é a sua condição de improdutividade, que não combina, em hipótese alguma, com o ser, que é produtivo por excelência, por isso nasceu, por isso foi colocado diante do mundo.
Há uma grave incompatibilidade entre a amargura e o ser. Com a produtividade, retorna a força da potência original, e então acontece o inevitável. O ser torna-se colorido, festivo, alegre, radiante. Assim ele é. Forças incompatíveis não convivem. A tendência natural é que uma anule a outra. Sendo assim, ou o ser expulsa a amargura ou ela acabará com ele.
Não há uma batalha de incompatíveis no ser, há sim a força bruta de um anulando de vez a fraqueza do outro, consumindo as energias restantes.
O curioso é que um fornece o combustível para o outro, um fornece o alimento, um fortalece o outro, é como o processo do ídolo. Uma vida sem autenticidade, de fraquezas e de falta de viço leva fatalmente à necessidade de ídolos. Quanto mais ídolos, mais sentido para a vida, par a pseudo vida, ou seja, ídolo deixa de ser algo saudável, alguém digno de admiração. No universo musical, por exemplo, a adoração (estimulada pela indústria) por alguém supera de longe o gosto pela música, o criador supera a criação, a obra, e se torna objeto de culto.
Porém, nos outros casos a amargura pode ser dimensionada, pode ser planejada,
quantificada, medida em graus. Eis o primeiro passo. Conheça bem as medidas da sua amargura. É com ela que irá lidar, é ela que enfrentará.
Pode escolher como grau primeiro a amargura do jiló.
É uma amargura interessante, pois é quase lendária, e a que existe de fato, pode ser resolvida com um simples tempero e um simples refogado. Jiló que se preze é consumido com prazer pelos amantes da boa culinária.
Um segundo grau da amargura é a do boldo.
Aí é mais complicado, mais forte, mais grave, mais difícil de se lidar. Tendo escolhido a do boldo, a etapa seguinte é a do equacionamento, de como lidar com ela, como conviver com essa amargura, e em certos casos como fazê-la funcionar- como se fosse uma auxiliar, uma ferramenta, e, mais adiante, uma companheira, e até excelente, pois pode desempenhar o papel coadjuvante ou protagonista de muleta ou cadeira de rodas, e em casos mais graves, de imobilidade total.
Feito isso poderá permanecer para sempre com ela se quiser, a vida é sua.
O terceiro caso, também profundamente gravíssimo, é a amargura da losna, que, dizem, é mais amarga do que boldo.
Tendo escolhido a sua amargura, e tendo enquadrado-a em graus, resta seguir em frente e dela fazer bom uso, aproveitando da sua nova condição para ser beneficiado pela camaradagem. Não poderão molestá-lo, nem deverão incomodá-lo exigindo atitudes, mobilidade e decisões. Não será chamado por ninguém de Sr. Decisão. A maioria dos amigos não será exigente com você. Para que incomodar um amargo? Para que atormentar quem em amargura vive? Ninguém chuta amargura. E como tristeza costuma dar ibope, poderá se tornar muito apreciado por alguns amigos, que provavelmente adoram ver gente triste.
Ora, que importam os motivos? Para quê o incômodo da sacudidela? Para quê? Melhor permanecer com a tristeza, com o amargo, e evitar ao máximo o sacolejo. Afinal não é uma amargura brotada da mais autêntica dor, é uma que nasceu de um problema qualquer, de uma aflição cotidiana.
Melhor permanecer na tranquilidade que só uma amargura assim pode proporcionar. É uma injustiça medonha incomodar um amargurado, exigindo dele uma atuação diante de um problema.
Deixe-o em paz, deixe-o curtir a sua amargura, ele afinal a mereceu. As coisas não estavam bem, um namoro que se findou, um negócio que não deu certo, a reprovação em um concurso, dívidas intermináveis, um carrossel de dívidas insolúveis, patrão, mulher, trânsito, insatisfações pessoais, governo. Tantas são as causas, que toda amargura pode e deve ser justificada. Ser amargo é como ser triste. Tem as suas vantagens.
Um ídolo musical de juventude pode ser engendrado pela indústria cultural tendo como suporte maior a sua tristeza, ou pelo menos, os olhos tristes. Sempre dará certo. A tristeza desencadeará sentimentos maternais, sempre adormecidos em cada um de nós, pois a natureza primeira do ser é a de mãe. É a própria natureza da terra.
Se você falar para uma criança que ela é tímida, estará dando a sua contribuição para a construção de um adulto tímido, e assim é com a tristeza, basta comentar que fulano é triste, e ele certamente gostará, embora não o revele, mas lá no esconderijo, lá no mais íntimo do ser, é bom ser saudado como triste.
Alguém triste é praticamente intocável.
É digno e merecedor de todos os cuidados. Generalizando, a maioria gosta mais do triste. Geralmente ele não incomoda, fica no seu canto, e dele não se exigirá uma ação enérgica, uma ação para a luta e para a mudança das coisas. Ele pode até estragar uma festa ao tentar contagiar a todos, mas é só deixá-lo de lado curtindo a sua tristeza, que é o que ele mais gosta, embora não confessadamente, e com exceções.
Um triste, um melancólico, um amargurado, é quase um ídolo.
Para a sociedade, um triste faz mais efeito, um amargurado é mais interessante. A idolatria do triste começa na inspiração dos cuidados excessivos. Ninguém gosta de burilar a "paz" de um triste. Um triste pode ir a um parque de diversões, mas continuará triste, pois esse é o seu maior alimento.
O portador de alegrias não é tanto apreciado, pois ele tem o péssimo hábito de incomodar. Já pensou um sujeito muito alegre em uma roda religiosa? Seria uma blasfêmia, uma arrogância, um desatino, uma profanação, pois a maioria das religiões ergueu-se sobre o sofrimento, e estendeu o véu da tristeza aos seres de oração. Os fundadores das religiões não agiram em estado de festa, dançando, cantando em profusão de alegria. Para que uma religião fosse fundada, deve sempre ter havido a condição primeira. Deve ter havido a tristeza. Ela pode ter sido um dos motivos responsáveis pelo "impulso natural do ser" para a religião. Tristeza com sua força de escravizar, com seu estatuto de escravocrata. Escravidões do mundo jamais desprezaram a tristeza. Nem as religiões.
A tristeza atrai mais adeptos. Uma religião de gente feliz, alegre, que dança, que explode em risos, que festeja, com o vinho da alegria, a vida, com certeza será banida, confinada, ou evitada ao máximo, dependendo da fase histórica da humanidade.
Como é bom ser triste! Como é reconfortante ser amargo, viver em condições de amargura. Como isso é paralisante! Como é bom ficar em seu próprio canto, remoendo, cabisbaixo, vendo a caravana passar. Amargura, como eu a quero! Assim terei a atenção de todos, dos amigos, dos parentes, dos psicólogos, todos estarão pré-ocupados demais com as causas e as soluções da minha amargura, da minha tristeza, e ninguém irá me chatear nem me incomodar, exigindo que eu vá à luta.
Ir à luta por quê? Amargurado é já um perdedor. Então melhor se recolher, se encostar, melhor ficar num canto qualquer se rastejando, andando onduladamente, deixando um rastro amargo no caminho. Amargurado e triste, a se rastejar, a se curvar, mas ficando em paz com os seus motivos, tendo conquistado o direito de ficar em um cantinho lendo o jornal, assistindo a um filme, tomando um sorvete, comendo pizza e mais pizza, ou simplesmente ligando a TV...
Tem um detalhe: amargura demais enjoa. Isso mesmo. Se os motivos não são a perda de um ente querido, uma tragédia, então a amargura vai incomodar depois de um certo tempo.
Como ela é, a exemplo da tristeza, um sentimento paralisante, uma forma de imobilização do ser, um acomodamento das forças produtivas, uma redução na potência original de cada um, pode ser reconfortante e gratificante por um determinado tempo, por conta dos benefícios de uma atenção alheia nada exigente. Considerando que vivemos a maior porcentagem de nossa vida em função da atenção alheia, — por isso nos exibimos—, é notável o fato de que sempre damos uma importância exagerada ao que pensam de nós, e a forma com que nos apreciam, nos examinam, nos medem, nos moldam, e quase sempre são tão generosos com a nossa imobilidade!
Se durante um determinado tempo a amargura é benéfica, depois ela começa a se esgotar, a murchar, começa a perder o sentido, e começa a incomodar, a querer e a clamar pela sua própria expulsão, a solicitar o seu próprio esmagamento, por causa da sua natureza primordial, que é a sua condição de improdutividade, que não combina, em hipótese alguma, com o ser, que é produtivo por excelência, por isso nasceu, por isso foi colocado diante do mundo.
Há uma grave incompatibilidade entre a amargura e o ser. Com a produtividade, retorna a força da potência original, e então acontece o inevitável. O ser torna-se colorido, festivo, alegre, radiante. Assim ele é. Forças incompatíveis não convivem. A tendência natural é que uma anule a outra. Sendo assim, ou o ser expulsa a amargura ou ela acabará com ele.
Não há uma batalha de incompatíveis no ser, há sim a força bruta de um anulando de vez a fraqueza do outro, consumindo as energias restantes.
O curioso é que um fornece o combustível para o outro, um fornece o alimento, um fortalece o outro, é como o processo do ídolo. Uma vida sem autenticidade, de fraquezas e de falta de viço leva fatalmente à necessidade de ídolos. Quanto mais ídolos, mais sentido para a vida, par a pseudo vida, ou seja, ídolo deixa de ser algo saudável, alguém digno de admiração. No universo musical, por exemplo, a adoração (estimulada pela indústria) por alguém supera de longe o gosto pela música, o criador supera a criação, a obra, e se torna objeto de culto.
Após a expulsão da amargura, a vida retorna com a sua presença princesial, de princesa mesmo, rica e farta, humana e bela, bela por isso, por sua própria humanidade,
Com o retorno da alegria, da festa, do colorido, retorna a vontade de viver, e com ela a vontade festiva e sorridente de produzir coisas, de fazer e refazer, de começar e de recomeçar, de recondução do ser à sua condição primeira.
Alegria. É para isso que o ser é, é para ela, para a alegria contagiante que anunciará a felicidade, é para isso que o ser quer estar no mundo. Tristeza e amargura são sintomas de um não-ser, uma coisa que se foi, algo que não está, que não é.
Em vez de compensar a "infinita" tristeza causada pelos inúmeros dissabores, o ser recupera-se e vai à luta, ergue-se, vai ser feliz, e cumprir o seu destino único, o de viver para a felicidade, isso significa: viver para a produtividade, fazer uma festa com a sua alegria, com a sua potência original.
Viva o ser-em-alegria! Façamos festas para recebê-lo. Ele é o maior, o que merece todos os risos e todos os riscos, ele está em estado de felicidade, ele não precisa da amargura e afastou a coisa do jiló, do boldo ou da losna. Viva o ser que sorri!
Sorrir não é um slogan, um mote, um imperativo publicitário, sorrir não tem nada a ver com gestos artificiais, não é sorrir para a foto, não é sorriso de creme dental, sorrir é abrir a alma, é permitir que a festa de viver penetre velozmente em seu ser, em sua vida, corcel maravilhoso num campo florido, a correr infinitamente.
Permita-se, enquanto ser, tornar-se um fornecedor das condições para que a energia maravilhosa do sorrir em você escoe. Sorri está além da face. Está nas células, lá dentro, no íntimo, no início do ser, no ponto de partida.
Só porque é difícil será fácil. Será esse o caminho condutor. Livrar-se da amargura, deixá-la impotente, sem forças, fraca, rastejante. Assim ela ficará. Nem vale a pena mais alimentá-la, reconfortando o corpo com excesso de alimentação, comendo doces e doces, todos de efeitos neutralizantes, pois amargura da alma não se cura com doces para o corpo. É puramente ilusório.
Adiante, com a amargura nocauteada, pisoteada, esmagada, o ser renasce em girassóis, em cores e sóis, em festas, em risos e em alegria incontida. Isso não é utópico, nem palavreado desconexo com a vida. É o ser com vontade de abraçar que ressurge.
É que existe um fator arrasador, um fator decisivo para a substituição da amargura pela alegria feliz. É o fator EU. Com ele ninguém pode.
Chegamos ao eixo central de nossa "teoria". Só ele poderá resolver isso, só ele decidirá tudo, ele é EU. Eis o fator. Bobagem os livros de autoajuda, venham eles até disfarçados de romances, venham a ser escritos por psicólogos, por filósofos ou por magos, nada disso interessa, e não produzirão nenhum efeito, se você desprezar o fator EU.
É ele o grande temor da amargura. Que atemoriza e escandaliza de medo a tristeza, pois quando resolve agir, se impõe. Só ele, o Eu, Então esse EU, esse fator, é você. Sim, você nesse exato momento. Pois não existe outro momento. Nenhum outro momento supera o vivido exatamente agora. Ele absoluto, o único capaz de produzir a grande revolução interior. Ele é o agora, o momento vivido por você. Não o que virá ou o que já passou, esses não importam no instante presente. Só ele, o exato momento atual, poderá desencadear as decisões que modificarão o estado do ser. Só ele tem as condições de expulsar a amargura, a tristeza, o enfraquecimento. Ele, o exato momento que se vive, e você, único portador do fator EU.
Se adiar, dançou. Nada deve ser adiado. Nenhuma decisão de caráter interior deve ser adiada, pois não existe o momento seguinte, para isso não.
Decisões materiais, como uma poupança, a compra de um imóvel, a construção de um projeto comercial, um carro novo: essas coisas podem ser adiadas, planejadas, ou seja, as condições deverão ser criadas para que elas aconteçam, mas uma decisão tão profunda, tão gigantesca como a de expulsar a amargura do ser para abrir as porteiras para a passagem da vida, uma decisão assim não pode ser adiada, pois isso não combina com a vontade do ser, que é a vontade manifestada da vida.
Então o primeiro passo é, através de uma varredura nos porões da mente, de uma limpeza, uma remoção de entulhos e resíduos, justamente verificar o grau da sua amargura, e iniciar o processo de expulsão.
Como o que é difícil sempre será fácil, então você deverá recolher o que tem a seu favor e decretar a expulsão da tristeza.
E o que tem a seu favor? Vamos rever. Primeiro o fator EU. Isso o torna mais importante do que já é. Você, e só você é portador desse fator único e radiante. Segundo, o Momento Exato, o único que existe e que tem a seu dispor. É pegar ou largar. EU, e o Momento Exato. Nada mais. O restante é compreender que não está fazendo nenhuma injustiça em expulsar a amargura, está fazendo algo benéfico, algo grandioso e que já demorou muito.
Está expulsando algo enjoativo, que só atrapalha, que só prejudica, que só reduz a força.
Amargura? Nem um pouquinho que seja, quanto mais assim em grande quantidade, pois se um pouco incomoda, demais enjoa.
MARCIANO VASQUES
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