domingo, 27 de junho de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 14

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DOMINGO PEDE PALAVRA

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Marciano Vasques
  


FRAGMENTOS
DE 
MÁRIO DE ANDRADE
 
 





Se estiver na calçada da Consolação, e em frente daquela biblioteca um homem alto, com óculos acentuados e sem aparência física atrativa, mas com um imenso sorriso cativante, lhe acenar com o seu chapéu, acredite, é a poesia a lhe chamar.

-"Arte é feita com carne, sangue, espírito e tumulto de amor"- escreveu Mário de Andrade à pintora Anita Mafalti.

Nessa e em todas as suas correspondências podemos enriquecer nossa vida ao extrair o entendimento de vida que tinha esse homem que escreveu sobre folclore, música, artes plásticas, teatro, literatura. Enfim, sobre praticamente tudo, e da sua arte fez o reflexo e o nascedouro de um novo tempo, um novo país.

A moranduba (narração) indígena amazônica ensina que é o amor que deve nortear e unir homens e mulheres. Mário, na rapsódia "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter" buscou na fonte indígena a edificação do seu herói, porém alterando a seu gosto a mitologia original e mesclando-a com crendices africanas e européias e com episódios cotidianos.
Nascido em outubro de 1893 em uma São Paulo diferente da atual, contempla na sua produção poética – que começou com o livro "Há uma gota de sangue em cada poema" e contou em seu trajeto com "Paulicéia Desvairada", "Losango Caqui" e "Clã do Jabuti" - o reflexo da vida social e cultural do Brasil no quarto de século que ele intensamente viveu e ajudou a embelezar.

Seu poema "Eu sou Trezentos..." está no livro "Remate dos Males" publicado em 1930, que pode ser interpretado como símbolo da diversidade cultural do país e do fragmentado homem dos grandiosos anos 20, pois revela, ao lado da enigmática mitologia pessoal do autor, seu compromisso com a época.

Enorme intelectual, fascinante personalidade artística do seu tempo,patrimônio da erudição, era um grande pesquisador. Interessou-se por tudo que se referia ao Brasil, tanto aguçado estava pela vida brasileira.


Todavia o incansável estudioso sempre uniu a pesquisa em livros com a palpitante vida da gente simples do povo, com a qual conviveu.

Elevado espírito: foi um homem público, porém a política partidária jamais o seduziu: suja e enojada que lhe parecia.

Angustiado, viveu os rumos do seu tempo: a segunda guerra mundial, a ditadura do Estado Novo; foi um homem voltado para a vida e a liberdade, desejando ardentemente que a sua arte servisse ao aprimoramento humano.

Quem foi afinal o autor de "Amar, verbo intransitivo"? Ele próprio nos responde num poema.
-"Eu sou trezentos, sou trezentos - e- cincoenta.
...
Mas um dia afinal, eu toparei comigo"

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