domingo, 1 de agosto de 2010

DOMINGO PEDE PALAVRA - 19

FRAGMENTO 1

Por isso é domingo, um dia que o calendário inventou para a nossa oportunidade de buscar a felicidade. Por isso vago pelas ruas do meu vilarejo, buscando encontrar os amigos e levando conversa na mochila da alma, e lá, desço ladeiras e contorno vielas, a poesia - ora veja!- está onde sempre esteve, a nos piscar, a nos dizer, e nós, que antes escrevíamos com o lápis no branco da folha, aqui estamos escrevendo diretamente na tela, neste retângulo que é o corpo do e-mail. Como foi possível isso? Como isso veio para mim?: escrever direto sem corrigir uma palavra que seja, sem modificar um sinal, sem me atrever a reler, sem revisão...E cá estou, e penso nos amigos, na alegria e no mistério da coisa chamada amizade.
Às vezes sou carrinho de rolimã para as estrelas, às vezes varro o céu com o meu olhar, às vezes me desfaço no verde das folhas lisas e enceradas pelo manso brilho do sol...
Amo estar aqui pois aqui é o lugar, e amo ser assim.  Quisera me preocupar com carros e celulares e embarcar na ilusão alegre dos jovens que exibem seus apetrechos sem o amadurecimento para a compreensão de que a leitura de um conto vale mais, e estou aqui, e nesse exato instante brotam futuros ramalhetes e a batatinha quando nasce, e a voz do cantor, a voz da mulher que me diz: siga em frente. E o tempo, essa ilusão, esse insondável confronto da vida...Ouço Rock and Roll com a alma exposta, a mesma que sempre buscou a felicidade nas coisas que são, e buscou como sempre buscou as mais puras manifestações de afeto, de amor e de generosidade, como a mão estendida com aquela fatia de pão num exagero de manteiga e o meu olhar de menino brilhando e se perdendo na poeira, e coisas assim que jamais me fizeram perder a crença no ser humano. Lá vou eu...


MARCIANO VASQUES

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