BRINCANDO COM O FANTASMA DA DECADÊNCIA
Eu poderia ficar aqui quieto no meu canto e seria da mesma forma vertiginosamente aplaudido silenciosamente, porém hoje, por ser domingo que pede palavra, resolvi escrever um pouco, quase uma pincelada, sobre decadência, isso mesmo, sobre o declínio da civilização ocidental.
Ainda não assisti ao filme do diretor de Benjamin Button, chamado A Rede Social, que trata da "Revista Caras" dos pobres. Sim, não assisti, mas gostaria de tecer um brevíssimo comentário, como convém em tempo de Twitter. Creio que o verbo Tecer não cabe, foi pura provocação, ou melhor, ironia.
O Facebook. Minha amiga entrou, ficou duas semanas, e caiu fora. Eu entrei, nem sei para que, e ainda estou na canoa, mas canoa furada..., já sabem, não é?
Vaidade. É a dança da vaidade. Mas uma vaidade sem sentido, claro que também sou leigo no entendimento desse nova civilização que está tomando o lugar da outra, a humanista. Claro que sei que não dá para fugir dessa nova, eu diria mais apropriadamente, era tecnológica. Sim, a tecnologia está tomando o lugar do humanismo.
A Ciberfavelização dos sentimentos... Sentimentos? Tem esse verbete em qualquer enciclopédia, digital, inclusive.
Se eu fosse adicionar a todos que me chegam no site de relacionamento, teria centenas e centenas de amigos. "Amigos". Pois é, deve ser vantajoso ter uma montanha de amigos sobre os quais nada sabemos, nem precisamos, pois não combina com o espírito do época essa coisa de ir até ao próximo. O importante é ter o próximo numa tela de computador. Nada além disso.
Minha querida sobrinha descobriu que existe o Orkut. O resto é vida lá fora, e isso dá uma trabalheira danada. Eu, no facebook, encontro poetas, escritores, intelectuais, artistas... E muita gente. É de fato uma rede. Mas, caiu na rede é peixe...
O que estou tentando dizer é que estamos dentro de uma armadilha, uma arapuca. Entrou, dançou. A melhor saída é não entrar. Começa a se desfarelar a distinção entre o público e o privado. Não haveremos de ter dentro de algum tempo a privacidade, a intimidade. Mecanismos serão criados para se promover a privacidade. Fórmulas milionárias, que enriquecerão alguns, pois muitos, saudosos do que viria a ser isso, irão comprar cotas de privacidade. Sei que é uma previsão de Apocalipse, mas algo assim irá acontecer.
Vamos ver aonde iremos parar. Estaremos todos ligados, conectados, numa rede gigantesca, num entrelaçamento de redes, como "vampiros de almas", e seremos um dia redescobertos como seres que realmente se comunicam entre si? Como seres pensantes, e efetivamente gregários?
Estou no Facebook, gente! Que vaidade! Na medida em que o sentido deixa de ser um requisito para a manutenção da saúde mental de uma sociedade, tudo passa a fazer sentido...
O fantasma da decadência já não assusta. Pois foi incorporado, e convivemos com ele a brincar.
MARCIANO VAQUES
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