Marciano Vasques NO DIA EM QUE O ENCONTREI |
Estava vindo quando o encontrei. Dei uma parada e me pus na calçada pra ver a banda e lá estava ele. Num andaime, naquela construção antes da estação do metrô. Colocava, umas sobre as outras, as proparoxítonas.
Estava lá. Nunca pensei que pudesse encontrá-lo assim tão cedo. Aliás, nunca pensei que pudesse mesmo encontrá-lo. Foi um encontro saudável, a melhor coisa que me aconteceu.
Então a vi. Ela também estava lá, na mesma calçada e eu a chamei. Claro que pelo primeiro nome que me veio à mente. Pelo menos pensei que pudesse ser esse o seu nome: Carolina.
Talvez fosse Januária ou Iracema. Cecília? Angélica? Sou meio devagar para guardar nomes.
Já a encontrara antes, pelo menos duas vezes.
Na primeira ela era assim meio bobinha. Ia por uma floresta. Depois de um bom tempo reapareceu com uma fita verde no cabelo. Já estava bem crescida.
E finalmente me apareceu comendo um bolo de chocolate. Quis perguntar o que fazia ali, mas ela responderia o óbvio. Também estava esperando pela banda, ou então o carnaval chegar. Tinha perdido o medo de tudo, e não comia qualquer bolo. Ofereceu-me um pedaço.
Alguma coisa me distraiu, uma ostra, o vento, um zepelim, uma moça com uma tatuagem...
Foi só me distrair e, cadê a menina?
Num instante desapareceu. Tentei segui-la para perguntar um monte de coisas, mas no meio da multidão não encontrei mais nenhuma menina com chapeuzinho.
Não tinha reparado, mas havia uma multidão. Gente de todo tipo, uns lendo um almanaque, outros pelas tabelas, ainda esperando, esperando, esperando...
Perguntei inutilmente para uns curiosos se algum deles havia visto uma menina assim, mas eles disseram que não tinham tempo para reparar em meninas com chapéus amarelos, mas eu argumentei também inutilmente que essa menina era muito importante e todos precisavam conhecê-la.
Ninguém queria saber, aliás, ninguém prestava atenção em mim. Um sujeito ouvia um rádio de pilha, colado ao ouvido. Do jeito que se movimentava, pareceu-me que ouvia uma dessas músicas assim com éguas.
Penso que essa multidão sempre esteve presente. Comecei a ficar sufocado, querendo sair do meio da multidão, quis gritar que a banda já havia passado, mas senti que ninguém estava esperando pela banda, talvez o sinal ainda estivesse fechado ou estavam esperando acontecer alguma coisa com ele, que continuava pendurado na construção.
Parece que a multidão gosta de ficar olhando para os andaimes lá no alto. O que sei é que a multidão não é muito chegada em olhar para o céu, assim contemplativamente. Isso é fácil de resolver, pensei, bastaria alguém espalhar o boato de que algumas nuvens jorram moedas.
Achei melhor seguir em frente, para não chegar atrasado. Olhando as vitrines mas procurando não me distrair para não perder a hora.
Passou por mim um sujeito com tipo de malandro oficial e, como se fosse num sonho, quatro animais, cantando...
Era um sonho, sim, só podia ser, mas eu estava com tanta pressa que achei melhor nem pensar nisso. Sonhos ficam para depois.
Passou uma morena por mim. Outra que está correndo. E olhe só o tamanho da fila do metrô! Perdi a morena de vista. É a coisa mais fácil perder alguém de vista em São Paulo. As pessoas entram nos labirintos e desaparecem. Adeus, morena. De Angola?
Meus caros amigos: sinto que estou ocupando demais o tempo de vocês, mas não podia deixar de contar esse encontro com ele, e com ela, a menina que perdeu os medos, e com as mulheres, todas: a morena, a noiva da cidade, aquela mulher, a Teresina, e outras.
Elas estão em nossas vidas, uma aparece como se fosse a primavera, outra, sob medida, uma nos oferece um amor barato, outra nos deixa injuriado. É assim, compadre, o que seria do seu cotidiano sem a presença da mulher? Mesmo que apenas em sonhos...
Mas, trocando em miúdos, está na hora de a gente se despedir, o dia vai começar. Parece que tudo está do mesmo jeito. A gente continua lutando, lutando... e uma dor sempre querendo se hospedar.
No fundo mesmo o que eu queria era contar esse encontro que tive com ele. Um encontro desses faz um bem danado.
Estava lá. Nunca pensei que pudesse encontrá-lo assim tão cedo. Aliás, nunca pensei que pudesse mesmo encontrá-lo. Foi um encontro saudável, a melhor coisa que me aconteceu.
Então a vi. Ela também estava lá, na mesma calçada e eu a chamei. Claro que pelo primeiro nome que me veio à mente. Pelo menos pensei que pudesse ser esse o seu nome: Carolina.
Talvez fosse Januária ou Iracema. Cecília? Angélica? Sou meio devagar para guardar nomes.
Já a encontrara antes, pelo menos duas vezes.
Na primeira ela era assim meio bobinha. Ia por uma floresta. Depois de um bom tempo reapareceu com uma fita verde no cabelo. Já estava bem crescida.
E finalmente me apareceu comendo um bolo de chocolate. Quis perguntar o que fazia ali, mas ela responderia o óbvio. Também estava esperando pela banda, ou então o carnaval chegar. Tinha perdido o medo de tudo, e não comia qualquer bolo. Ofereceu-me um pedaço.
Alguma coisa me distraiu, uma ostra, o vento, um zepelim, uma moça com uma tatuagem...
Foi só me distrair e, cadê a menina?
Num instante desapareceu. Tentei segui-la para perguntar um monte de coisas, mas no meio da multidão não encontrei mais nenhuma menina com chapeuzinho.
Não tinha reparado, mas havia uma multidão. Gente de todo tipo, uns lendo um almanaque, outros pelas tabelas, ainda esperando, esperando, esperando...
Perguntei inutilmente para uns curiosos se algum deles havia visto uma menina assim, mas eles disseram que não tinham tempo para reparar em meninas com chapéus amarelos, mas eu argumentei também inutilmente que essa menina era muito importante e todos precisavam conhecê-la.
Ninguém queria saber, aliás, ninguém prestava atenção em mim. Um sujeito ouvia um rádio de pilha, colado ao ouvido. Do jeito que se movimentava, pareceu-me que ouvia uma dessas músicas assim com éguas.
Penso que essa multidão sempre esteve presente. Comecei a ficar sufocado, querendo sair do meio da multidão, quis gritar que a banda já havia passado, mas senti que ninguém estava esperando pela banda, talvez o sinal ainda estivesse fechado ou estavam esperando acontecer alguma coisa com ele, que continuava pendurado na construção.
Parece que a multidão gosta de ficar olhando para os andaimes lá no alto. O que sei é que a multidão não é muito chegada em olhar para o céu, assim contemplativamente. Isso é fácil de resolver, pensei, bastaria alguém espalhar o boato de que algumas nuvens jorram moedas.
Achei melhor seguir em frente, para não chegar atrasado. Olhando as vitrines mas procurando não me distrair para não perder a hora.
Passou por mim um sujeito com tipo de malandro oficial e, como se fosse num sonho, quatro animais, cantando...
Era um sonho, sim, só podia ser, mas eu estava com tanta pressa que achei melhor nem pensar nisso. Sonhos ficam para depois.
Passou uma morena por mim. Outra que está correndo. E olhe só o tamanho da fila do metrô! Perdi a morena de vista. É a coisa mais fácil perder alguém de vista em São Paulo. As pessoas entram nos labirintos e desaparecem. Adeus, morena. De Angola?
Meus caros amigos: sinto que estou ocupando demais o tempo de vocês, mas não podia deixar de contar esse encontro com ele, e com ela, a menina que perdeu os medos, e com as mulheres, todas: a morena, a noiva da cidade, aquela mulher, a Teresina, e outras.
Elas estão em nossas vidas, uma aparece como se fosse a primavera, outra, sob medida, uma nos oferece um amor barato, outra nos deixa injuriado. É assim, compadre, o que seria do seu cotidiano sem a presença da mulher? Mesmo que apenas em sonhos...
Mas, trocando em miúdos, está na hora de a gente se despedir, o dia vai começar. Parece que tudo está do mesmo jeito. A gente continua lutando, lutando... e uma dor sempre querendo se hospedar.
No fundo mesmo o que eu queria era contar esse encontro que tive com ele. Um encontro desses faz um bem danado.
Um comentário:
Conto inspiradissimo meu amigo você anda bem produtivo e inspirado!
Um abraço!
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