quinta-feira, 3 de março de 2011

Agudos, o OVNI e os antigos carnavais

Queridos leitores!!


Semana passada, minha inesquecível terrinha, a cidade de Agudos, no interior do estado de São Paulo, conquistou momentos de fama na programação da Rede Globo, mais precisamente no FANTÁSTICO de domingo passado. Foi ao ar uma reportagem a respeito de um OVNI que teria passeado pelo céu agudense, na região da rodovia Rondon. Após a exibição da filmagem os telespectadores foram informados pelo "detetive virtual" do Fantástico que aquilo não era verdadeiro, mas, apenas uma montagem. Não é a primeira vez que o assunto OVNI surge "pairando" sobre a cidade de Agudos. Entretanto, deixarei esse assunto para uma próxima vez. Esta semana, quero falar a respeito dos Carnavais de Agudos, que durante muitos anos encantaram os foliões agudenses e visitantes. Hoje, os Carnavais de Agudos não mais existem, mas, as lembranças e as saudades, essas permanecerão pra sempre.
Um beijo,
Regina Sormani


Saudades dos velhos carnavais de Agudos

Parte 1 - A BANDA INFERNAL DOS LORDES


Por Agnaldo Benincasa, cidadão agudense.

Por volta dos anos 40 e até os 50, os bailes carnavalescos em Agudos eram realizados no rinque de patinação e quem os promovia era o Sr. Benedito Silveira, que angariava fundos entre seus amigos mais próximos para pagar as despesas com os músicos que animavam o salão a partir do domingo, continuando na segunda e na terça-feira. Foi uma iniciativa pioneira, porquanto a cidade não contava com clubes recreativos ou de serviços que viessem a organizar tais eventos. Houvera dois clubes anteriormente, na praça Coronel Delfino, um exclusivo da “elite”, fundado pelo Coronel Leite, passou a ser o Ginásio Municipal São Paulo, depois foi Escola de Comércio e, hoje, é unidade da Escola Serelepe. O outro, mais popular onde hoje é o “Lar das Crianças”. Mais tarde, ocorreu a união do Clube Recreativo Agudense (o rinque de patinação) com o Agudos Tênis Clube (ATC), fundado em 1940. A sede do ATC passou a ser no prédio do Clube Recreativo (ao lado do cine-teatro, sempre teve funções recreativas até ser demolido, sendo o terreno comprado pelo Banco do Brasil, que construiu ali sua agência). Há que se observar que antes da Segunda Guerra Mundial havia bailes no Clube Recreativo e no salão nobre do Cine-Teatro São Paulo, tendo havido, portanto, o deslocamento dos bailes da Praça Coronel Delfino para a Praça Tiradentes. Assim é que as reminiscências de hoje começam com a iniciativa da Banda dos Lordes (mais tarde transformada na Banda Infernal), na nova fase do Carnaval agudense. No ano 1950 surgiu a idéia, de uma turma de rapazes, elementos de nossa sociedade, de formar um bloco musical, que, concretizado, passou a chamar-se “Banda dos Lordes”. Ela era composta, outrora, por: Ezequiel de Castro Guedes, Orlando Domingues, João Domingues, Aldo Paschoal, Pedro Zaniratto, Agnaldo Benincasa, Reynaldo Fogagnoli, Álvaro Paixão, Missionera, Moacir Benetti, Julcir Venturini, Alceu Sormani, Waldir Cezarotti, Paulo de Castro, Eliseu Benincasa e José Zuccarelli. Apenas um pequeno número desses participantes ainda vive. Necessitava-se de um local para os ensaios. Próximo à estação da Paulista, num terreno pertencente à família De Conti, existia uma extinta máquina de benefício de café e lá então esse grupo se reunia, aliás, antes, até para estudar a formação da banda. Decidida a empreitada, apareceu a dificuldade em conseguir os instrumentos. Mas, como o prefeito era o Padre Aquino, conseguiu-se que a Prefeitura os cedesse, após soldagem de alguns furos neles existentes. Quem fazia esse conserto eram o Orlando Domingues e o Moacir Benetti, que garantiam a perfeita sonoridade, no caso dos instrumentos de sopro. O local escolhido era bastante distante, na época, do centro da cidade, o que o tornava perfeito para o sigilo dos ensaios, principalmente quanto às músicas ensaiadas, dentre as quais “Mamãe eu quero", a principal, “Jardineira” e “Pé de Anjo”. Dada a insistência daqueles que tentavam, com seus assopros, conseguir extrair melodia e sonoridade convincentes era levemente perceptível quais músicas iriam sair daquele barulho infernal. Graças a essa persistência de todos em seus assopros, conseguiu-se coordenar o som das composições carnavalescas, que afinal tornaram-se reconhecíveis. A propósito, quando das apresentações, a graça estava na eventual desafinação ou desencontros, que não impediam, contudo, que o público reconhecesse a música que estava sendo executada. Os ensaios demoraram quase um mês, mas as reuniões aconteciam quatro vezes por semana. Quando todo o grupo já estava harmonizado, pensou-se na fantasia. Ela seria composta de cartola, gravata borboleta, fraque e calça azul-marinho. No rosto, seriam alteradas as sobrancelhas e pintados os bigodes e cavanhaques. Na verdade, quando se fantasiaram,muitos dos componentes da banda conseguiram aplicar cavanhaques de pelo de carneiro. Quem elaborou essas fantasias, ou seja, quem desenvolveu o figurino e fez os cortes foi um alfaiate bastante famoso na época, o Sr. Edmundo Zuccarelli. Quanto à cartola, foi emprestada a original, inglesa, do Dr. Gabriel Rocha, que a cedeu, com muita satisfação e a pedido do Lalado, para que servisse de modelo. Cada integrante da banda providenciou a sua, de papelão, naturalmente obedecendo à medida de sua cabeça. Quem as pintava eram os irmãos Orlando e João Domingues, na oficina da Agência Chevrolet, hoje loja 3 dos Supermercados São Paulo. Estando tudo pronto para o início do Carnaval, pensou-se em fazer uma grande surpresa para o público. O grupo deslocou-se de caminhão, cada componente levando sua fantasia e instrumento, até a estaçãozinha de Conceição, da Sorocabana, existente entre Agudos e Bauru. Com a permissão do chefe da estação, vestiram a fantasia e se maquiaram. Compraram suas passagens, que seriam picotadas pelo chefe de trem, após embarcarem. O percurso até Agudos, como era de costume, durou 15 minutos. O desembarque na estação da Sorocabana em Agudos foi um sucesso estrondoso, ainda mais por se tratar, na ocasião, de um bloco totalmente original e cômico. Já na plataforma, os lordes ficaram abismados ao verem o excepcional número de pessoas que vieram recepcioná-los. Elas haviam sido atraídas por inúmeros foguetes que anunciaram a chegada da banda dos lordes. Passados os primeiros momentos de empolgação, a banda postou-se disciplinadamente, em formação idêntica à das bandas tradicionais, preparando-se para o início da parada carnavalesca. O porta-bandeira Moacir Benetti, que também fazia o papel de maestro, deu o sinal para que se iniciasse a música ensaiada e, assim, começaram a descer a Rua 13, em formação disciplinada, enquanto o público que os apreciava não só sorria a valer como também os aplaudia. Uma multidão foi acompanhando, cantarolando a música-tema “Mamãe eu quero” e as demais. Pessoas nas janelas também aplaudiam. Os lordes, dada aquela recepção, tanto se animaram que passaram a esmerar-se na execução das músicas, precisando o “maestro” solicitar que desafinassem de propósito, para não perder a graça. Esses relatos são um pouco do bloco pioneiro que marcou para sempre a história do carnaval agudense. O sucesso teve motivo muito lógico, porquanto foi o único bloco que apareceu na época para animar o carnaval de rua. Tanto é que Bauru, que, salvo desfiles em épocas mais recentes, não foi feliz em termos de carnaval de rua, convidou a Banda dos Lordes para um desfile na Rua 1º de Agosto, e lá também foi um estrondoso sucesso. A propósito, as bandas do carnaval agudense costumavam apresentar-se na cidade no primeiro e no terceiro dia. A segunda-feira era reservada para apresentação em outras cidades. Esse rodízio impedia que a banda se tornasse “carne de vaca”. Outros grupos se apresentaram em anos seguintes, com características semelhantes, incluindo o segredo das fantasias guardado a sete chaves, para que no dia da apresentação causassem agradável surpresa. As bandas também visitavam os bailes que se realizavam na época. A orquestra contratada para animar o baile silenciava para dar oportunidade à entrada da banda, que executava músicas carnavalescas da época. Quando dos desfiles nas ruas, a banda também era convidada para adentrar bares, onde lhes eram servidas cervejas, ou refrigerantes aos que não apreciavam bebidas alcoólicas. Todos bebiam com moderação porque tinham um longo compromisso com os foliões das ruas e dos salões. As fantasias, após o carnaval, eram preservadas para lembrança, nos anos seguintes. Lembrança da animação, de festas sadias, sem violência, com criatividade, diversão, amizade e união.

Nenhum comentário: