quarta-feira, 2 de março de 2011

Mensagem

O NOSSO CISNE NEGRO
E O LIVRO
DA MÃE TIGRE



2011 começou com duas obras de muita polêmica. O filme “Cisne Negro” (vencedor de inúmeros prêmios independentes) atingiu já o Brasil, com o tema focado em diversas variantes da loucura: a nossa e a loucura dos outros que afetam nossas vidas nos papéis de mãe, orientadores, amigos, entre outros.
A bailarina (Natalie Portman, Oscar de melhor atriz) é cobrada pela mãe castradora que nunca admitiu não ter talento raro, culpando a filha pela sua própria falta de sucesso. Motivo pelo qual se realizava e se vingava ao mesmo tempo na filha. A amiga que pulula entre a admiração e a inveja, sentimentos irmãos, que hora a ajudava e hora a prejudicava deliberadamente. A loucura do orientador que busca atingir o núcleo obscuro de força da bailarina, através de ameaças, ofensas e desafios. O resultado é catastrófico para quem não consegue lidar com a pressão e o sofrimento.
Para outros é maravilhoso, observando-se apenas o sucesso atingido e ignorando o sofrimento próprio e o alheio. No filme fica evidente a violência psicológica e emocional que a mãe infringe a filha que é tratada como um ser não pensante até em idade adulta. Enquanto isso, o livro Battle Hymn of the Tiger Mother, (não foi lançado no Brasil ainda), da chinesa-americana Amy Chua – em tradução livre “Canto sagrado de batalha da mãe-tigre”-, gera polêmica nos Estados Unidos desde janeiro. A autora foi ameaçada de morte por criticar duramente a (nossa?) forma de educar ocidental.
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Ela é professora do curso de Direito na Universidade de Yale e respeitadíssima em sua área. As duas filhas, hoje adolescentes, foram criadas nos moldes chineses, como ela: sem televisão, sem amigos fora da escola e com uma disciplina militar. Em entrevista para um programa americano, ela comenta que quando uma filha quis parar com as aulas de violino por não conseguir tocar uma difícil música, ela a obrigou a ensaiar mais ainda, até que a filha aprendesse que era capaz de tocar qualquer música e que gostamos de tudo o que fazemos bem. Ou seja, para ela o gostar vem naturalmente depois do domínio; os filhos não sabem decidir o que é melhor para eles e disciplina lapida o diamante bruto que somos ao nascer.


A personagem do Cisne Negro, primeira bailarina da Companhia, também sofria com o perfeccionismo, exigido às vezes pela mãe, mas exigido por si própria, constante e doentiamente. A segunda bailarina ardia em paixão por tudo e imperfeita não conseguiu o papel principal, mas vivia em plenitude e dançava muitíssimo bem, sem carregar o peso do mundo nas costas. A perfeccionista vivia para dançar apenas e impressionar aos outros com sua arte. Para aceitar a nossa imperfeição é preciso humildade e equilíbrio: tudo é passageiro e no final não são os aplausos do público que farão diferença, mas sim o carinho dos poucos que realmente nos amam. Rir dos próprios erros dá leveza à vida. Quem não consegue rir de si próprio acaba sendo o seu maior inimigo, não aceita sua humanidade e exige vôos cada vez mais altos. E todos sabemos: quanto mais alto o vôo...

A pergunta é: onde fica o equilíbrio perfeito? Pois, se de um lado, os filhos criados sem limites sofrerão as consequências previstas, do outro, temos os exageros e abusos que adoecem as almas e transformam crianças em aves sem asas. Exceções existem: uma benção para os pais, filhos que não precisam de rédeas e fazem as escolhas certas desde pequenos.

Os cisnes brancos eram considerados os únicos da espécie até que um dia descobriu-se negros cisnes na Austrália. Foi um choque. Quem nunca se chocou quando vislumbrou o cisne negro que vive dentro de um aparente cisne branco? Será que dentro do cisne negro não vive um cisne branco? Será que não somos todos “zebrados”?
Um cisne só é feliz quando é livre e pode voar. Mesmo assim, até os pais cisnes – brancos e negros - levam os filhotes sobre as costas ou embaixo das asas quando nascem. Com a Mãe Natureza não se discute. Somente ela é sã na sua natural perfeição.

Simone Pedersen

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