domingo, 1 de maio de 2011

DOMINGO PEDE PALAVRA — 57


MÃE, DE POEMAS, DORES E LUZ


Diz o poema da Cecília Meireles: “reaprende a ter pés e a caminhar” Terá havido poema mais triste e mais doloroso na alma da Literatura do Brasil? “Vou-me embora pra Pasárgada”, talvez. Mas a dor de uma mãe!... Quando o filho se vai, é a mãe que fica órfã, diz a Cecília neste poema.
Outra tristeza dolorida é de autoria do Chico. “Uma canção desnaturada”, que faz parte do álbum duplo “A Ópera do Malandro”. O compositor canta com Marlene o desespero dos pais de Teresinha, que amaldiçoam o nascimento da filha quando ela decide abandonar a casa paterna para viver na companhia de um traficante. É com certeza a mais dolorida canção do autor.
Deméter, a mãe de Core, que é sequestrada pelo temível Hades e passa a viver no reino subterrâneo, como esposa do deus, recebendo o nome de Perséfone...
São momentos na Mitologia, na poesia e na canção, que retratam o amor e a perda, retratam enfim, a dor da mãe diante da partida da filha. Deméter enlouquece de dor e devasta a terra, trazendo a fome e a dor. Impõe o inverno rústico e toda a vida começa a definhar. Só quando Perséfone retorna para a superfície e se torna Core novamente, a primavera renasce, pois a alegria na alma e no rosto de Deméter se reflete no mundo.
E tem uma canção gravada por Timóteo, que é mais uma das joias do nosso cancioneiro, que, queiramos ou não, é banhado pelo sentimental que governa esse coração. “Mamãe”, canta o cantor cuja voz deixava o rádio, atravessava a janela e enchia a vila.
A valoração da mãe está no presente. No tempo da decalcomania comprávamos panelas e outros utensílios, talvez por que na cozinha estaria o seu significado maior. Ela aprontava os nossos alimentos, e só mais tarde veríamos com clareza o quanto nos alimentou a alma, o coração, com suas fogueirinhas nos entardeceres outonais, com suas histórias e suas parlendas ao som da chuva do outo lado da vidraça e sobre as telhas.
Quando minha mãe se foi eu não estava preparado para sentir a falta e a dor que sinto hoje. Mãe será sempre o símbolo da vida, e assim é Gaia, o nosso planeta. Quando a mulher dá à luz, ela traz, ela oferece à luz um novo ser, e isso é a vida em seu ciclo infinito.
Se as estrelas fossem os olhos das mães que partiram, mas estariam a nos piscar, teimando em nos orientar, pelo menos com sua luz, aqui numa cidade de poluição, de céu limpo só no Planetário, veríamos o quanto estamos órfãos.
Mãe, o segundo domingo de Maio é seu. Maio, mês da deusa Maia, sentada em seu trono de luz, hoje preservada e protegida numa constelação de sete estrelas. Mãe, teu mês é maio, e você é e sempre será o momento mágico de um abraço, de uma palavra, já decorada por todos os filhos do mundo. “Cuidado! Lá fora é perigoso”. Mãe não dorme na febre do filho, mãe não terá mais paz em seu peito se aquele que ela amamentou se perder numa droga de esquina. Mãe, Mãe, com amor, sempre. Ela afinal só entende desse sentimento.

Marciano Vasques




2 comentários:

Regina Sormani disse...

Querido amigo e parceiro Marciano poeta Vasques!
É sempre necessário e prazeroso agradecer auas belas matérias. Maravilha!
Bjão,
Regina Sormani

MARCIANO VASQUES disse...

Regina,
Para mim é motivo de alegria e felicidade estar aqui neste espaço que resume e traduz a sua luta, a sua perserverança e a sua fé na poesia, na literatura e no amor.
Marciano Vasques