Marciano Vasques QUEM FAZ O QUE PODE FAZ POUCO |
Alguns se surpreendem quando exponho o meu lema de vida, outros concordam imediatamente. “Quem faz o que pode faz pouco!” É assim que penso, esse é o barco que vou remando.
Quem faz o que pode faz pouco! É normal pessoas apresentarem justificativas para o “dever” não cumprido. Às vezes um amigo se aproxima e diz que não teve culpa da mancada, que fez o que pode. “Sinto muito, fiz o que eu pude!”. Quando isso acontecer, responda: “Fez pouco!”.
Qual o mérito em se fazer apenas o que pode? Não deixa de ter a sua louvação, é evidente, mas fazer o que se pode, sempre é mais fácil. Todos podem fazer, qualquer um faz. O possível está sempre dentro da possibilidade.
Quem faz o que pode faz pouco! É normal pessoas apresentarem justificativas para o “dever” não cumprido. Às vezes um amigo se aproxima e diz que não teve culpa da mancada, que fez o que pode. “Sinto muito, fiz o que eu pude!”. Quando isso acontecer, responda: “Fez pouco!”.
Qual o mérito em se fazer apenas o que pode? Não deixa de ter a sua louvação, é evidente, mas fazer o que se pode, sempre é mais fácil. Todos podem fazer, qualquer um faz. O possível está sempre dentro da possibilidade.
Não deixa de ser respeitável que alguém possa realmente se dedicar fazendo algo que esteja no âmbito do possível, no âmbito daquilo que qualquer outro possa fazer.
Porém, se eu fizesse ao longo dos meus últimos anos apenas o que me foi ofertado como o possível, isto é, aquilo que eu poderia fazer pelo fato de se apresentar em minha vida como dentro das possibilidades de ação, estaria perdido hoje.
Estar perdido é mais que estar dentro de um labirinto, o que por vezes é fascinante. Um labirinto pode ser uma dádiva da vida. Vidas sem labirintos são comuns. E o que é comum tem o seu valor inegável, mas não transgride, portando não alcança o pólen mais interessante.
Estar perdido é ter perdido ideais sem se dar conta, é ter ficado para trás na caminhada, e ter esmaecido na galeria dos sonhos, ter perdido o vigor na busca dos sonhos, pois são eles que dão significados à vida.
Vida é algo além de nutrir e satisfazer o corpo para manter o organismo (a máquina- noção que foi delineada nos primores da mente humana, a partir do surgimento das idéias filosóficas que deram origem ao verdadeiro desenvolvimento das ciências, processo que se arrastou do XVI e culminou no XX).
Vida é mais, é uma idéia soberana e extraordinária, que está vinculada ao fato da visão e contemplação do mundo. Viver é estar no mundo, é partilhar da grandiosidade da natureza, é sentir-se parte da força inimaginável do universo.
Se os sonhos dão significado à vida, viver então está além da pura satisfação do organismo, que é também algo que não pode ser jamais desprezado. A mãe é a primeira a nutrir o organismo, e oferece os cuidados necessários para a manutenção da vida no bebê. Com o desenvolvimento do corpo, a alma começa a tomar forma, ou seja, os conhecimentos começam a aparecer e vão compondo a essência do ser.
Na medida que os conhecimentos humanos (a alma) vão surgindo, não se trata mais apenas de se cuidar da nutrição e das satisfações do organismo, pois ele passou a ser dotado de “vida”, e a essa alma dá-se o nome de consciência, e fortalecê-la significa redobrar os cuidados, significa um esforço incomum, estamos agora no terreno do além do poder, no terreno (no espaço) das mobilizações de todos os setores da vida humana.
O ser dotado de consciência tem a vida, e a sua preservação é algo cuja imensidão de esforço (que pode passar despercebido) é inigualável. Cada ser é um universo em potencial.
Porque se a vida se resumisse apenas ao seu significado de se cuidar (alimentar, dar conforto, etc) do corpo, seria de uma tristeza e melancolia insuportável, e para compreender isso, bastaria se visitar algum hospital e o choque da visão de pessoas imobilizadas por tubos penetrando em seu corpo pelos orifícios do rosto e os braços esqueléticos mantidos por agulhas presas por condutores de plásticos, ou ainda conservar a imagem na lembrança das visões derradeiras da partida de algum ser querido.
A visão de meu pai morrendo no leito de um hospital, é algo que me deixou mentalmente arrasado. O que estava indo embora era a vida? Mas a vida não podia ser isso, apenas isso, e o esforço de todos (Desde a mãe até à incansável luta da ciência), -que merece um profundo respeito-, para manter o organismo funcionando, não respondeu ali, naqueles momentos, diante da minha autêntica impossibilidade de arrancar da realidade aquele hospital, aquele quarto e aquele leito e transportar o meu pai num sonho (de Ícaro?) de volta para a sua contemplação em antigas manhãs de domingos, diante das plantações do quintal.
Quem faz o que pode faz pouco! Viver intensamente, eis uma idéia vinculada ao fazer além do poder, pois o poder está no reino das possibilidades, e é preciso se ir mais além; assim como no terreno da política um governante que assume o poder e faz apenas o que é possível (na verdade sempre faz menos) não é digno de elevadas glorias, também as pessoas comuns, como eu, devem se esforçar diariamente, principalmente no campo dos relacionamentos humanos, para “se fazerem” além do possível.
Talvez aí esteja a chave do mistério da vida. Por exemplo: os que vivem numa grande metrópole e enfrentam os desgastes psíquicos e emocionais de uma situação caótica e estressante. Quiçá alguns possam voar com suas maravilhosas asas, e adquirir a capacidade da beleza generosa que é o ato da vida, o que significa: a capacidade de se ultrapassar as fronteiras do apenas possível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário