domingo, 16 de janeiro de 2011

DOMINGO PEDE PALAVRA - 43



SÃO PAULO DE TODOS OS AMORES


São Paulo já foi da garoa, dos demônios da garoa, do samba. São Paulo já foi e é Sampa. Coisa linda que os baianos sacaram. Mas São Paulo está mudando, afinal, que bobagem!, não pode parar. Se pudesse, deveria, pois tem aconchegos de sobra.
Tem? Claro! A Biblioteca de São Paulo, onde era o complexo do Carandiru, a Pinacoteca, o Memorial da América Latina, o Ibirapuera, o Masp, a Estação da Luz, o Parque do Carmo em Itaquera, sim, Itaquera. Melhor parar. Se você der uma parada irá descobrir a sua leveza. Agora percebi que um dia é pouco para conhecer os cantos e os recantos da cidade. São Paulo precisa também de mais de uma crônica. Pois é.
Crônicas? Precisa de um romance. Espere um pouco! Romances é o que a cidade mais tem! Se fosse possível transformar em livros todas as suas histórias, seriam tantos os romances... Romances nascidos na rua Direita, na poeira e nos varais da periferia. Tem tudo aqui, tem histórias dramáticas, tragédias, amores encantados.
O espírito de São Paulo é o da poesia. Sim, e o seu patrono é o Mário de Andrade. Ora, veja só que presente a cidade vai ganhar em seu aniversário! A nova biblioteca Mário de Andrade. São Paulo e seus poetas nas calçadas chuvosas, seus moços, sua juventude, seu Rock In Roll, seu blues...
São Paulo, cidade de Tom Zé, cidade da poesia concreta e do exagero de concreto.
Toda São Paulo da saudade é inesquecível. A praça Clóvis, com aquele terminal de ônibus. Que saudades! É, a gente acaba sentindo saudades até das filas.
E o terminal de ônibus da Penha? Quantas e quantas vezes lá estive! Hoje em seu lugar está o Shopping Center. Aliás, a cidade está se transformando num imenso Shopping Center.
É compreensível a atração que São Paulo exerce nos povos de outras regiões. Muitos vêm com a intenção de trabalho. Dizem que aqui é terra do trabalho.
Alguns desvairados bem gostariam que a cidade fosse a terra da poesia. Talvez seja. Para mim é, bem já disse.
Nada me era tão prazeroso como passear na cidade: suas calçadas, suas galerias, seus viadutos, seus personagens. Lembro-me que durante alguns janeiros estive na Barão de Itapetininga, no calçadão assistindo à apresentação do índio das castanholas. Sim, o Índio Chiquinho, aquele que depois passou a ser desmoralizado pelo programa Pânico, da Rede TV.
Algumas cenas são inesquecíveis mesmo! Uma delas: Estava na Praça Ramos, entre o Mappin e o Teatro Municipal.  Eu apontava, para as crianças que perambulavam comigo, as luzes do Prédio do Banespa numa noite de quase Natal. Que magia! Só então eu me dava conta. Estava na cidade das luzes.
E os cinemas? Nada para mim trouxe mais alegria do que entrar nos cinemas de São Paulo. Não entrei em todos, mas vivi cenas inesquecíveis. Jamais olvidei, e nem poderia, a tarde fria de chuvisco (chuvisco, para não perder o costume: Talvez a cidade sempre tenha estado mais perto das nuvens) quando saí do cine Olido com os olhos em lágrimas após assistir ao Doutor Jivago.
Mas a familia ri quando me lembro que estive também num cinema da Avenida São João assistindo a um filme chamado "Nasce um Monstro". Eles sempre dão muita risada, pois isso aconteceu no dia 8 de março de 1977. Do cinema fui direto para o Hospital Santa Marcelina para ver pela primeira vez a princesinha que nascia.
Pois foi em São Paulo que levei pela primeira vez meus filhos ao cinema, para assistir ao conto de fadas moderno de Spielberg, o "ET", e depois, também com eles, no Cine Ipiranga. Cine Ipiranga? Essa saudade não cabe numa tela. Não me diga! O Belas Artes também vai fechar?
  Sei, os cinemas foram para os shoppings, e a cidade vai mudando, a cada ano, a cada dia, só o amor não muda. A gente não consegue deixar de amar São Paulo.
Nessas andanças do tempo, a cidade, acreditem, irá sediar a abertura da próxima copa do mundo, e, que orgulho!, aqui em Itaquera. Aqui, viu?
Feliz Aniversário!
São Paulo de todos os amores.

MARCIANO VASQUES

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